A cidade de São Paulo perdeu marronzinhos desde 2010, enquanto a frota da cidade cresceu 22% no período. Dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, mostram uma redução de 16% no número de agentes em seis anos.
Na prática, 3 em cada 20 agentes deixaram a CET por causa de demissão ou aposentadoria. O último concurso para preenchimento de vagas foi realizado em 2008, na primeira gestão de Gilberto Kassab (PSD). Os marronzinhos são responsáveis por organizar o trânsito na cidade, como, por exemplo, após acidentes ou em locais com semáforos desligados.
Em números absolutos, cada marronzinho cuidava de 3.017 veículos em 2010. Em 2016, passou a tomar conta de 4.405, um aumento de 46%. Segundo Alfredo Coletti Bocci, diretor do Sindviários (sindicato da categoria), a defasagem pode ser ainda maior, porque apenas 1.200 agentes trabalham na rua.
O "cobertor está curto" e não há marronzinhos em quantidade suficiente para cobrir toda a cidade, segundo Bocci. "Hoje, temos um deficit de 2.850 agentes de trânsito na rua", afirma.
| Diego Padgurschi-10.jan.2009/Folhapress | ||
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| Agente orienta motoristas no estacionamento da Praça Charles Muller, em frente ao Pacaembu |
Na gestão da então petista Luiza Erundina (1989 a 1992), hoje no PSOL, havia 2.500 agentes nas ruas, para uma frota três vezes menor, segundo o sindicato.
Com Fernando Haddad (PT), houve um programa de demissão voluntária já no primeiro ano de gestão, em 2013, com a perda de 7% do efetivo, sem reposição.
A situação piora, segundo o sindicato, porque marronzinhos são deslocados para operações especiais, como a Marginal Segura, do prefeito João Doria (PSDB). Segundo Bocci, 70 foram tirados de seus postos para trabalhar nas marginais Tietê e Pinheiros. Há ainda remanejamentos em eventos, como a Fórmula 1.
MAIS MODERNOS
A gestão João Doria (PSDB), afirmou por meio de nota que a CET busca otimizar a administração do trânsito na cidade com "os recursos mais modernos que são oferecidos atualmente".
"A evolução tecnológica não permite comparar os recursos entre períodos de tempo tão distintos, como pergunta a reportagem. A gestão da companhia tem o desafio de acelerar a modernização da CET, focando na inteligência, utilizando técnicas de gestão de operação que já são conhecidas e dominadas pela engenharia de tráfego", disse. A prefeitura não informou se vai contratar mais agentes ou fazer novos concursos.
Segundo a CET, apesar de o município ser dividido em oito gerências, não há limites para ações conjuntas em operações especiais, como na Marginal Segura, ou ainda o Grande Prêmio Brasil em Interlagos. A CET afirma que cumpre todas as determinações acertadas na convenção trabalhista da categoria. Procurada, a gestão de Fernando Haddad (PT) não se manifestou.
O especialista em engenharia de transportes Sérgio Ejzenberg afirma que o nó gigantesco no cruzamento entre as avenidas Brigadeiro Faria Lima e Juscelino Kubitschek, no Itaim Bibi (zona oeste), divulgado pela rádio BandNews na semana passada, é prova de que falta agente de trânsito na capital.
"Causou espanto a demora na solução do problema. Demorou tanto que aquele nó chegou a atingir a avenida Rubem Berta, o túnel Ayrton Senna, e a própria Faria Lima até o largo da Batata", diz. "Trouxe uma preocupação. Cadê os agentes? Onde eles estão? Precisaria de no mínimo seis para controlar aquele cruzamento. A CET não deu resposta rápida", completa.
Segundo Ejzenberg, mesmo com o uso de sistemas inteligentes e câmeras de monitoramento, o trabalho do agente é fundamental.
O especialista diz que uma grande leva de agentes foi contratada nos anos 90 e está próxima da aposentadoria, o que pode agravar o problema. "Demora para treinar novos agentes."
MULTAS
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou que a Prefeitura de São Paulo seja impedida de usar o dinheiro das multas para pagar o salário de funcionários da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), como é o caso dos marronzinhos.
¦A gestão anterior, de Fernando Haddad (PT), havia conseguido liminar para usar a grana da multa no pagamento de pessoal. A atual gestão, de João Doria (PSDB), disse que ainda não foi notificada da decisão.