Contou o rabino no sepultamento de Ichie Schwartsman que, certa feita, no casamento de um de seus netos, o advogado disparou ao sacerdote (que era o mesmo): "Ande logo com isso que eu estou com fome."
Do episódio extraem-se dois dos mais marcantes traços da personalidade de Ichie: falava o que pensava e era apaixonado por comida.
O judeu, nascido na Paraíba e radicado em SP, não perdia a oportunidade de ir a um restaurante recém-inaugurado e colecionava estabelecimentos prediletos. Nem conseguia escolher um tipo preferido –sua lista ia da culinária italiana à tailandesa.
Já mais velho e com a saúde debilitada, foi proibido por seus médicos de comer frutas, uma de suas paixões. Até passar por uma cirurgia em 2015 e poder voltar a comê-las, foram mais de dois anos de brigas e grandes discussões com a família sobre o que é uma fruta, conta o filho Alexandre, que se lembra do pai como bravo e rígido.
Apesar da braveza, era bastante amoroso, diz o filho. Na juventude, Ichie ia buscar a irmã mais nova na escola sempre com um gibi novo na mão, para alegrá-la. Mantinha também a rotina de visitar a mãe todas as sextas-feiras, levando de presente uma rosa.
Conheceu a mulher, Gilda, em um casamento em 1959. Contava que, assim que a viu, disse: "Vou me casar com essa mulher". No dia seguinte descobriu seu endereço e foi levar a ela uma foto que tiraram juntos na festa. Convidou-a para sair e viveram quase 60 anos juntos, tendo quatro filhos e seis netos, que deixou no último sábado (4), aos 84, após ter uma parada cardíaca.
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| Ichie Schwartsman (1932-2017) |
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