Folha de S. Paulo


Em apoio a PMs, policiais civis do ES param nesta quarta e ameaçam greve

Uma assembleia de policiais civis do Espírito Santo decidiu por fazer uma paralisação nesta quarta-feira (8), em Vitória, em protesto pela morte do policial Mário Marcelo de Albuquerque em Colatina, no interior do Estado.

Segundo a Entidades Unidas da Polícia Civil, que reúne delegados, peritos, investigadores, escrivães e médicos, somente as unidades regionais da Polícia Civil do Estado funcionarão para atender emergências a partir desta quinta (9).

"Não é greve, é legítima defesa", diz Rodolfo Laterza, coordenador da organização e presidente do Sindicato dos Delegados do Espírito Santo. "Vamos fechar delegacias que não têm segurança. As delegacias estão em colapso, não podemos trabalhar com um ou dois policiais", completou.

A ação deles também é um apoio à greve dos policiais militares do Estado, deflagrada na última sexta (3). Os policiais civis pedem aumento salarial e dizem que a categoria não tem reposição para cobrir a inflação há três anos.

Laterza pede ainda a renúncia do secretário da Segurança, André Garcia. "Que ele tenha a grandeza de renunciar porque já não tem condição." Caso não haja negociação com o governo, a entidade pode votar greve a partir do dia 17.

As unidades regionais irão priorizar flagrantes. São 18 no Estado, sendo quatro na região metropolitana. Segundo Laterza, o Estado tem 2.000 policiais civis, mas deveria ter o dobro. "Haverá prejuízo ao público porque não temos condição de dar segurança nem a nós mesmos. O grito é para ajudar a sociedade, não é corporativista", disse.

Outra entidade, o Sindicato dos Policiais Civis, convocou assembleia para esta quinta (9) para decidir se irão entrar em greve.

PROTESTO

Nesta quarta, centenas de policiais civis foram a pé ao Quartel do Comando-Geral da PM prestar apoio às famílias de militares, que protestam desde sábado (4). Juntos, cantaram o hino nacional e criticaram o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB).

De dentro do quartel, policiais militares aplaudiam. Depois de breves discursos, os policiais civis deixaram o local. Durante a tarde, irão ao enterro do colega Mário Marcelo de Albuquerque, morto nesta terça (7) em Colatina, no interior, ao tentar impedir um assalto a uma motocicleta. Houve troca de tiros e ele foi atingido no abdômen.

Protesto de policiais civis no Espírito Santo em apoio à greve da PM

Mais cedo, Hartung, concedeu uma entrevista coletiva à imprensa e disse que a greve dos PMs "é uma chantagem". Ele ainda afirmou que só vai negociar as reivindicações dos policiais militares quando a paralisação for interrompida.

CRIMINALIDADE

Segundo o Sindicato dos Policiais Civis, o número de mortos desde sábado (4) no Estado subiu para 85. O governo não confirma o número.

O Sindicato dos Rodoviários decidiu manter os ônibus na garagem após o clima de tensão desta terça (7), quando o Exército teve que interferir para liberar uma avenida em frente ao Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar.

Centenas de pessoas se reuniram em frente ao quartel, onde familiares de policiais e manifestantes que querem a volta da PM protestavam.

Onda de violência no ES
PM está em greve desde o dia 3 de fevereiro

"Após acompanhar cuidadosamente os últimos acontecimentos, ainda não se reconstituiu o ambiente que garanta a plena segurança e mobilidade de servidores, população e suas famílias. Por isso, infelizmente é necessário suspender novamente todas as atividades da prefeitura", afirmou prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS).

Pelo terceiro dia seguido, escolas e postos de saúde amanheceram fechados nesta quarta (8) em Vitória, mesmo com a presença do Exército nas ruas.

O secretário de Segurança Pública do Estado, André Garcia, voltou a dizer que 1.200 homens das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança patrulham a Grande Vitória. Disse também que solicitou mais tropas ao governo federal.

REAJUSTE SALARIAL

Desde sábado, familiares de policiais bloqueiam a saída de viaturas das unidades de polícia. Eles pedem melhores condições aos policiais militares, como aumento de salário e adicionais por periculosidade e trabalho noturno.

De acordo com o Clube dos Oficiais da PM do ES, os servidores estão há três anos sem receber recomposição da inflação –a última reposição foi em 2014, de 4,5%. O último aumento salarial da categoria ocorreu em 2010.

Os policiais militares são proibidos pela Constituição de realizarem greves. A Justiça considerou ilegal a paralisação e determinou o fim do movimento, mas o patrulhamento continua suspenso. No caso de descumprimento da ordem, foi fixada multa diária de R$ 100 mil às associações de policiais militares.


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