Folha de S. Paulo


Doria faz 'merchan' e bomba na web com reality do dia a dia de prefeito

"Tá faltando muita coisa?", o homem pergunta para as funcionárias de uma unidade de saúde de São Paulo, com as câmeras ligadas. Enquanto as mulheres relatam a falta de remédios, ele comenta sobre a umidade na parede.

A cena lembra uma reportagem sobre as más condições de um equipamento público, mas quem estrela o vídeo é o próprio prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), em uma visita surpresa ao local. Com as câmeras ainda ligadas, ele telefona para o secretário de Saúde, Wilson Pollara, e cobra uma solução.

O vídeo foi gravado em uma unidade médica do Butantã, na zona oeste. Postado no perfil de Facebook de Doria em 17 de janeiro, três dias depois já tinha mais de 3 milhões de visualizações. O dia a dia do tucano é registrado em detalhes no perfil dele na rede social, como se fosse uma espécie de reality show da prefeitura.

Acostumado às câmeras, depois de comandar programas como "O Aprendiz", ele se tornou um fenômeno na internet como prefeito. Antes de ser eleito, em outubro, tinha 272 mil seguidores no Facebook, segundo o site Social Bakers. Agora, tem mais de 1,4 milhão.

O prefeito ainda está longe de celebridades como o jogador Neymar, com 59 milhões de fãs. Porém, no quesito seguidores, ganha com folga de outros políticos como o ex-prefeito petista Fernando Haddad (310 mil) e o governador Geraldo Alckmin (854 mil).

Quem cuida das mídias sociais do tucano não são servidores municipais, mas uma equipe própria paga por ele. Nesses canais, a imagem pessoal do tucano é explorada, enquanto nas redes da prefeitura o enfoque é mais institucional –os vídeos publicados já tiveram, juntos, mais de 30 milhões de visualizações.

Nos canais pessoais, é possível encontrar o prefeito com diferentes figurinos –ele já se vestiu de gari, pintor, agente de trânsito, jardineiro, entre outros. As caracterizações causaram comparações nas redes sociais do tucano com o apresentador Gugu Liberato, da TV Record, conhecido por quadros em que assume diversos disfarces.

No último dia 22, um domingo, o prefeito provocou polêmica ao encarnar o cadeirante para testar a acessibilidade de uma calçada na zona norte. "Sei a importância da acessibilidade. E agora estamos experimentando na prática as calçadas de São Paulo", disse o tucano.

Em uma delas, Doria denunciou ter encontrado abandono e lixo na Casa de Cultura do Butantã. "Uma surpresa muito desagradável. Uma casa de cultura sem ninguém, sem atividade, maltratada, a manutenção muito ruim", disse o prefeito. O vídeo gerou indignação entre coletivos que frequentam o local, que afirmam que a filmagem aconteceu no período de férias e que a casa é palco de diversas atividades.

'MERCHAN'

Em pronunciamentos em suas redes sociais e em entrevistas também rola o momento de 'merchan'.

Marcas de tintas, montadoras de carros e automóveis e até equipes de praticantes de rapel são constantemente lembrados por Doria. A propaganda é a aparente maneira de o prefeito contemplar o que ele chama de apoiadores da cidade. São empresas que, segundo Doria, ofereceram produtos e serviços à prefeitura para zeladoria de equipamentos e transportes, por exemplo, motivados pelo senso de cidadania.

Durante a entrega da reforma da ponte Octavio Frias de Oliveira, no último dia 17, o prefeito cobrou de seus assessores os nomes das doadoras. "Eu preciso da relação para nominar as empresas e agradecer. Quem está cuidando disso?", questionou a um deles.

Antes de responder a perguntas de jornalistas, o prefeito fez questão de lembrar todas. "Queria fazer um agradecimento às empresas que nos ajudaram, que contribuíram para que esse trabalho fosse realizado, com investimento [o custo da limpeza foi de R$ 900 mil]. Queria agradecer à Inova, à Soma, à Phillips, à Extreme, ao WTC (World Trade Center, ao Sheraton e à Conexão Berrini", listou.

A gestão Doria afirma que as doações das empresas sequem o que está previsto na lei e que incentiva que todas as empresas e entidades da sociedade civil colaborem com a cidade. "A ideia é que empresas concorrentes ou mesmo outras que queiram participar do processo ofereçam propostas, sendo escolhida a mais vantajosa para a prefeitura", afirma, em nota.


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