Folha de S. Paulo


Exército encontra de arma branca a geladeira em penitenciária de RR

Divulgação/Exército
Treinamento com detectores de metal iguais aos utilizados na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR)
Treinamento com detectores de metal iguais aos utilizados na penitenciária de Monte Cristo, em RR

Sessenta e uma geladeiras, 31 televisores, 23 fogões de pequeno porte e 136 armas brancas. Essa é parte dos itens encontrados na Pamc (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo), em Boa Vista (RR), onde 33 detentos foram mortos em rebelião no início de janeiro.

O balanço da varredura da última sexta-feira (27), que envolveu o Exército, inclui 56 celulares, 12 DVDs e aparelhos de som, três botijões de gás, duas máquinas de tatuagem entre outros itens inusitados (veja a lista completa abaixo).

Na ação, que teve início às 6h, foram utilizados detectores de metais de chão e de parede. Os militares só entraram no complexo após o isolamento dos detentos num pátio, segundo informou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, em coletiva em Recife (PE), no início da tarde do mesmo dia.

Segundo a Sejuc (Secretaria de Justiça e Cidadania) de Roraima, todos os eletrodomésticos encontrados na Pamc fazem parte dos benefícios concedidos pela LEP (Lei de Execuções Penais) como direitos adquiridos.

O texto da LEP não diz nada sobre a posse de tais equipamentos, mas o inciso II do Art. 56 estipula a "concessão de regalias" como recompensas pelo bom comportamento e dedicação do detento ao trabalho. Segundo o texto, cabe à legislação local estabelecer a natureza e a concessão das regalias.

Questionada sobre os eletrodomésticos na penitenciária de Monte Cristo, a Sejuc afirmou que "como a lei é subjetiva, fica a cargo do diretor responsável pela unidade analisar as regalias concedidas."

Ainda segundo a nota, os itens apreendidos foram encontrados nas alas da unidade prisional. "Todo esse material já estava na penitenciária há mais de anos e só não havia sido retirado ainda devido a falta de grande efetivo, como ocorreu com a revista realizada em parceria com o Exército."

A Sejuc afirma também que adquiriu equipamentos de segurança, como esteiras e portais de raio-x, e comprará scanners corporais para evitar que pessoas má intencionadas entrem na unidade com materiais ilícitos.

A previsão é que os equipamentos sejam instalados até o fim do primeiro semestre do ano.

O Exército deu suporte a homens da Polícia Militar e da Secretaria de Justiça e Cidadania durante a revista. Com o agravamento da crise no sistema prisional, o presidente Michel Temer reconheceu que a situação ganhou "contornos nacionais" e liberou as Forças Armadas para atuarem dentro das prisões brasileiras.

Outros Estados também formalizaram à Presidência pedidos de entrada do Exército nas penitenciárias. Segundo o ministro, os procedimentos estão em fase de preparação e acontecerão nos próximos dias. De acordo com ele, porém, isso só ocorrerá em penitenciárias sem riscos de conflitos com os detentos.

Segundo o Ministério da Defesa, devem acontecer buscas em penitenciárias do Amazonas, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul.

Veja o que foi encontrado

  • 1,2 kg de drogas (maconha e cocaína)
  • 56 aparelhos celulares e dois chips
  • 136 armas brancas
  • 3 cartões de memória USB
  • 25 resistências improvisadas para esquentar água
  • 4 marretas grandes
  • 31 aparelhos de TV
  • 55 antenas improvisadas
  • 12 DVDs e aparelhos de som
  • 23 fogões de pequeno porte
  • 3 balanças de precisão
  • 1 microondas
  • 9 liquidificadores
  • 61 geladeiras
  • 1 garrafa pet com pólvora negra
  • 2 sacos com sementes de maconha
  • 3 botijões de gás
  • 3 sanduicheiras
  • 3 torradeiras
  • 2 máquinas de tatuagem
  • R$ 607 em dinheiro
  • 8 cartões de crédito
  • 1 carteira de porte de arma vencida

MASSACRE

Trinta e três presos foram mortos no dia 6 de janeiro na Pamc (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo), a maior penitenciária de Roraima, durante uma briga de facções. O caso envolveu presos ligados ao Comando Vermelho e ao PCC (Primeiro Comando da Capital), facção mais numerosa na penitenciária, após alguns deles quebrarem cadeados e invadirem a ala onde ficavam homens de menor periculosidade.

A maior parte das vítimas foi decapitada. Segundo a Sejuc, havia 1.475 presos na unidade quando o massacre aconteceu -a capacidade é para 750 detentos.

Foi o terceiro pior massacre já ocorrido dentro de uma unidade prisional na história do país e aconteceu quatro dias depois de 56 presos serem mortos no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus. O pior deles foi em 1992, quando uma ação policial terminou com 111 presos mortos no caso que ficou internacionalmente conhecido como massacre do Carandiru, em São Paulo.


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