Folha de S. Paulo


Anna Lia Amaral de Almeida Prado (1925-2017)

Mortes: Tenaz educadora mesmo fora das classes

Arquivo pessoal
Anna Lia Amaral de Almeida Prado (1925-2017)
Anna Lia Amaral de Almeida Prado (1925-2017)

Experiente tradutora experiente de clássicos literários, Anna Lia recebeu nos últimos anos de vida a proposta de traduzir "O que Aristóteles Pensou sobre o Lugar", de Henri Bergson.

O desafio era duplo. Já debilitada pela idade, Lia tinha dificuldades para lidar com a tecnologia. Seu domínio das línguas, no entanto, estava intocado –tanto quanto a sua obstinação. Com a ajuda das sobrinhas-netas, concluiu a versão da obra.

Desde criança levava jeito para a educação formal. O pai teve que forjar documentos para que ela pudesse cursar a 5ª série antes da idade. Aos 16, já dava aulas no primário. Formou-se em letras clássicas, com doutorado em língua e literatura grega pela USP (Universidade de São Paulo), onde ocupou a cadeira do idioma por décadas.

Era rigorosa com suas aulas e consigo. Certa vez, confundiu as datas e faltou na aula inaugural do curso, que calhou de ser no dia de seu aniversário. Martirizava-se por ter feito isso com os alunos. Em outra ocasião, lecionou com o braço quebrado, pedindo a um colega para escrever por ela se necessário.

Em vez de repreender alunos que erravam, transformava os equívocos em uma nova lição, traçando paralelos com outras línguas e, assim, fixando conhecimento.

O talento como educadora foi além das salas de aula. As mesmas sobrinhas-netas que a auxiliaram no fim da vida foram praticamente alfabetizadas por ela em casa. Sagaz, Lia utilizou brincadeiras com palavras para desenvolver o interesse nas crianças.

Morreu no dia 15, após uma infecção generalizada. Deixa sobrinhos e sobrinhos-netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missas


Endereço da página:

Links no texto: