Folha de S. Paulo


Vilma Rodrigues Takata (1931-2017)

Mortes: Com sua integridade, conquistou vizinhança hostil

Arquivo pessoal
Vilma Rodrigues Takata (1931-2017), com os filhos Mary e José Toshio
Vilma Rodrigues Takata (1931-2017), com os filhos Mary e José Toshio

Quando dava aulas para o primário na Vila Ede, na zona norte de São Paulo, Vilma teve os filhos como alunos. A menina, Mary, não levava a sério os estudos –como a mãe era a professora, não achava que precisava se esforçar. Acabou sendo reprovada pela própria mãe, na segunda série.

Apesar de parecer cruel, a atitude foi um exemplo da retidão que marcou sua trajetória. Com ela não haveria privilégio, todos os alunos seriam tratados da mesma forma, para o bem e para o mal.

A postura de atender a todos sem distinção de classe ou ascendência gerou o respeito e a admiração da comunidade do bairro pobre da periferia paulistana.

O marido, Toshio, tinha uma farmácia próxima à escola estadual e, diferentemente dos comércios ao redor, a loja de remédios nunca foi assaltada. A família sempre creditou essa forma de "imunidade" ao tratamento humano pelo qual a professora Vilma era conhecida.

Natural de Tapiratiba, no nordeste paulista, Vilma foi a única das irmãs a seguir uma profissão formal. Casou-se com Toshio, um imigrante japonês, mas a relação não foi aprovada pela família dele, que veio para o Estado ao final da Segunda Guerra.

Vieram então para São Paulo, onde tiveram os dois filhos. Sempre deixava um jornal do dia no balcão na farmácia da família. Dizia aos filhos, durante a ditadura e em um bairro afastado, que o impresso era uma "janela para o mundo".

Morreu no dia 2, por uma infecção generalizada. Deixa os filhos José Toshio e Mary, a irmã Marlene e dois netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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