O fenômeno de blocos de rua no Carnaval de SP, que não para de crescer e deve ter, neste ano, cerca de 500 grupos, caminha agora para formações que carregam causas sociais além da folia e das marchinhas. A defesa da diversidade, dos animais, do consumo consciente e da natureza estão entre os motes.
Desfilando pelo segundo ano, o MinhoQueens, que arrastou cerca de 15 mil pessoas pelas ruas do centro em 2016, tem como bandeira o "respeito à diversidade". Antes do cortejo, o grupo faz um discurso sobre tolerância, liberdade de gênero e direitos humanos.
"Muitos acham que nosso bloco é apenas de 'drags' alegres, mas é muito mais que isso. Não é só festa, é ação social. Ao longo do ano, fazemos atividades para arrecadação de fundos para centros de acolhida, para compra de brinquedo", diz Fernando Magrin, líder do bloco.
Para ele, que se monta como a drag Mama Darling para os desfiles, os foliões "levam para casa" os conceitos positivos do bloco, mesmo em meio ao Carnaval. "Temos grande receptividade e batemos na tecla da consciência pela igualdade. Certeza que muitos aderem à causa", diz.
O grupo irá para as ruas, saindo da praça Marechal Deodoro, no centro, no dia 25 de fevereiro a partir das 15h.
Já o bloco FrancisKryshna tem objetivos mais espirituais e também de defesa dos animais. O lema do grupo é "o que nos une é a vontade de passar uma mensagem positiva através do Carnaval".
O grupo não toca marchinhas, mas, sim, "músicas que falam de paz e amor", entre elas a oração de São Francisco de Assis e mantras.
"Nosso bloco é diferente da maioria, mas é festivo, alto astral. Somos pequenos por enquanto, mas saímos felizes dos ensaios, que acontecem em uma pracinha na Pompeia [zona oeste], que é cuidada por nós", diz Phydia de Athayde, líder do grupo.
O FrancisKryshna vai desfilar no dia 4 de março, a partir das 9h, na praça Rio dos Campos, na Pompeia.
TRADIÇÃO
Para Alberto Ikeda, professor aposentado do Instituto de Artes da Unesp e especialista em Carnaval, a defesa de bandeiras na festa tem ganhado força nos últimos dez anos, mas ela é histórica e está na origem da manifestação cultural no Brasil.
"O Carnaval é uma crítica social por natureza. Surgiu como forma de contrapor o cotidiano, o produtivo com a inexistência de regras, com a fartura e com a diversão. É um ritual momentâneo para que a sociedade siga funcionando em harmonia", afirma.
Segundo Ikeda, as causas ligadas à liberdade de gênero, ao ambiente e ao questionamento político são as mais frequentes nos blocos de rua contemporâneos pelo país. Ele avalia que embora não tenham "poder transformador" efetivo, as iniciativas colaboram com a criação de uma mentalidade mais engajada.
"As práticas atuais dos blocos não chegam a ser revolucionárias, mas têm poder de gerar nas pessoas uma memória de questões sociais que afligem a sociedade. É como um amor de Carnaval: passa rápido, mas fica guardado em algum canto afetivo."
As ruas paulistanas terão ainda os "protestos festivos" do bloco Pagu, formado apenas por mulheres, que sai no dia 28 de fevereiro, na Vila Madalena (zona oeste) e o bloco do Pedal, que tem "compromisso com o futuro energético, integrando a bicicleta", que sai dia 18 de fevereiro, na Vila Mariana, entre outros.
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ENSAIOS GRATUITOS
SÁBADO (21)
10h - FrancisKryshna
Praça Rio dos Campos, Pompeia
13h - Não Serve
Mestre e Besta é Tu
R. Wisard, 252,
Vila Madalena
17h - Pimentas do Reino
e Cacique do Jaraguá
R. Mourato Coelho, 1.032,
Vila Madalena
DOMINGO (22)
14h - Unidxs do
Grande Mel
R. Constança, 32, Lapa
16h - A Massaroca
R. Cesário Motta Jr., 580, Vila Clementino
16h - Os Capoeiras
R. Inácio Pereira da Rocha, 170, Vila Madalena
16h - Pitibull Banguela
R. Cerro Corá, 1.392, Lapa
*Data oficial de desfiles vai de 17.fev a 5.mar. Vários blocos, no entanto, anunciam desfiles a partir do dia 11 de fevereiro
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