Folha de S. Paulo


Conflito em presídio e ataques nas ruas preocupam turistas em Natal

Danilo Sá/Folhapress
Passageiros aguardam em ponto de ônibus de Natal no segundo dia seguido sem transporte público
Passageiros aguardam em ponto de ônibus de Natal no segundo dia seguido sem transporte público

A rebelião que já dura seis dias no Rio Grande do Norte e resultou em uma série de ataques na capital potiguar na noite desta quarta-feira (19) tem preocupado viajantes que passam o verão em uma das regiões mais turísticas do país.

"Realmente, todos estamos com medo. Não esperávamos que fôssemos passar nossas férias em meio a esse clima de insegurança, diz o comerciante Alberico Lima, 48, curitibano. "Por enquanto não houve necessidade de alteração. Mas já estamos pensando em, se a situação piorar, remarcar alguns passeios", continua.

"Já estive aqui outras vezes e sempre foi tudo muito tranquilo. Hoje está mesmo só esse clima de insegurança diante de tantas notícias, mas a torcida é que isso tudo passe logo", diz o aposentado Aroldo Martins, 69.

Apesar do clima de apreensão, praias famosas, como a de Ponta Negra, tinham bastante movimento durante a tarde. "Está dando para aproveitar a cidade. Só fica mesmo a preocupação da família que está longe, mas estamos sempre em contato", diz a gaúcha Mariana Sampaio, 32.

Segundo Daniel Joás, gerente de um restaurante próximo à orla, não foi possível perceber ainda grande impacto no movimento. "Mas claro que, se a situação demorar muito a ser resolvida ou se tudo piorar, deve acabar prejudicando todos os setores da cidade", diz.

ÔNIBUS

Por volta das 12h30 do horário local, as empresas de ônibus voltaram a recolher os coletivos em circulação em toda a cidade, alegando falta de segurança. No fim da tarde, à medida que as pessoas iam saindo do trabalho, as paradas de ônibus ficavam lotadas.

"Quem está mandando aqui é a bandidagem. O povo é que mais sofre. Não temos mais nem como ir para casa. Infelizmente essa é a realidade", diz o ambulante Samuel Dantas, 58, enquanto esperava um ônibus para ir à cidade de Macaíba, vizinha a Natal.

No entanto, nenhum coletivo circulava nas ruas, e os táxis foram autorizados a fazer o transporte como lotação. Durante a noite de quarta, 15 ônibus foram incendiados e os ônibus também foram recolhidos.

"Ontem já tive que esperar bastante. Hoje está sendo a mesma coisa. E do jeito que está é melhor encontrar outro jeito de ir para casa porque estão todos com medo até de pegar ônibus", reclama Juliana Borges, 22.

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A Polícia Militar diz que está se reunindo com o setor de transporte para traçar estratégias de segurança e que colocou todo o seu efetivo nas ruas para conter novos ataques.

Os ônibus já saíram das garagens com atraso de duas horas no começo do dia, o que causou longa espera em paradas de toda a cidade. O Sintro-RN (Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários do RN) diz que a categoria esperou o dia amanhecer para sair com mais segurança.

"Nós estamos nas ruas confiando apenas na segurança de Deus e esperamos que nos terminais viaturas [policiais] possam dar segurança", disse o presidente do Sintro-RN, Júnior Rodoviário, pela manhã. "Sem polícia não tem condições de colocar a vida dos motoristas e cobradores na mão dos marginais", disse o presidente do Sintro-RN, Júnior Rodoviário.

A coleta de lixo na cidade também foi prejudicada na quarta-feira (18). A Prefeitura de Natal decidiu suspender o serviço com medo de ataques aos veículos.

A Guarda Municipal de Natal, que poderia atuar na escolta dos ônibus, como ocorreu em outras ocasiões, está em greve desde 23 de dezembro. A categoria pede o pagamento de salários atrasados e a compra de coletes para todos os servidores, entre outras reivindicações.

Apesar do clima de insegurança, as escolas, universidades e o comércio em geral funcionam normalmente nesta quinta (19).

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