Folha de S. Paulo


Plano improvisado provoca tensão entre moradores de rua de SP

Ao embarcarem em uma expedição organizada pela gestão João Doria (PSDB) na manhã desta quinta (12), um grupo de moradores de rua da praça 14 Bis, na região central de São Paulo, não imaginava que aquilo terminaria mal.

A proposta da equipe da secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Soninha Francine, era levar, em duas kombis da prefeitura, alguns moradores de rua para conhecer um espaço da prefeitura que estava ocioso, onde eles poderiam morar. Trata-se de local na rua Prates onde antes a prefeitura recebia imigrantes.

Mas quando os 24 moradores de rua chegaram lá, se depararam com outros moradores de rua em frente àquele espaço, revoltados por terem sido preteridos. "Chegando lá, foi a maior surpresa. O pessoal nos recebeu com barras de ferro, faca", diz Anderson dos Santos, 25, morador da 14 Bis. "Eles estão esperando para morar lá, e a gente foi colocado nessa situação."

A tensão entre os dois grupos foi contornada quando os moradores de rua da praça 14 Bis disseram que iriam embora dali –parte conseguiu voltar com a kombi; o restante teve de voltar a pé.

"Quando falaram sobre o local, eu disse: 'Mas já tem gente lá'", diz o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, que acompanhou a ação. "Os moradores de rua não são homogêneos. Não tem solução simples, é preciso envolver a população de rua para decidir."

O secretário-adjunto de Assistência e Desenvolvimento Social, Filipe Sabará, diz que a secretaria "descobriu esse local há dois dias". "Os que estavam lá, é claro, falaram 'como assim? O pessoal da praça 14 Bis vai ter prioridade em um lugar que está na nossa frente?'", admite.

Questionado se a decisão de levar os moradores da praça 14 Bis para o local não teria sido precipitada, respondeu que a pasta "está tentando fazer tudo de forma coletiva", ou seja, construindo soluções junto com os moradores de rua. "Por isso, pode haver erros. Não foi algo planejado. Foi uma coisa meio que na hora, o pessoal falou 'então vamos conhecer agora'. Poderíamos ter dito não, mas a gente entendeu que poderia ser."

Sabará afirma que continuará dialogando com os moradores da praça 14 Bis a fim de encontrar uma solução para o impasse. Moradores do bairro pedem que eles sejam retirados dali, e que as quadras sejam disponibilizadas para lazer.

TELA

Outro morador da praça 14 Bis, Joas Barbosa Santiago, 32, diz que se decepcionou com a situação da manhã desta quinta. Ele é um dos moradores que antes viviam de fato na praça e que agora estão sob o viaduto Plínio de Queiroz, onde há quadras cercadas por um arame.

Desde o dia 2, quando Doria inaugurou o programa de zeladoria urbana Cidade Linda, um carro da GCM (Guarda Civil Metropolitana) fica na praça, o que provocou a migração de moradores de rua para o espaço sob o viaduto. Ali, a prefeitura colocou lonas verdes, "envelopando" os moradores de rua e escondendo o que acontece no espaço. A gestão Doria diz que alguns moradores de rua pediam privacidade.

Juliana Gragnani/Folhapress
faixa que moradores da praça 14 Bis fizeram nesta quinta (12) Foto: Juliana Gragnani/Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Faixa feita por moradores da praça 14 Bis questiona tela colocada pela Prefeitura de São Paulo

Parte dos moradores que estão sob o viaduto pedem a retirada dessa lona. Nesta quinta (12), após a confusão da manhã, fizeram faixas para pendurar ali. "O que há por trás das telas?", questiona uma delas. Outra diz: "Cidade Linda é cidade humana".

Segundo Lancelotti, que nesta quinta (12) recebeu um telefonema de Doria pedindo que "se encontrasse um caminho de solução pacífico para o conflito" desta manhã, o prefeito afirmou que "nesse momento não tiraria" a lona. Sabará diz que o pleito foi feito pela secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social à prefeitura regional da Sé.


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