Folha de S. Paulo


Viaduto da Nove de Julho que será reaberto para carros é rota de Doria

Joel Silva/Folhapress
SAO PAULO, SP BRASIL- 03-01-2017 : Vista do Viaduto Nove de Julho que será reaberto para carros por determinacao do novo prefietoJoao doria Jr. ( Foto: Joel Silva/ Folhapress ) ***COTIDIANO *** ( ***EXCLUSIVO FOLHA***)
Vista do Viaduto Nove de Julho que será reaberto para carros

João Doria (PSDB) ganhará tempo em seu trajeto de casa à prefeitura após a primeira mudança viária de sua gestão.

A partir desta sexta (6), o tucano e os demais que passam de carro pela avenida Nove de Julho poderão voltar a usar o viaduto que passa em cima da praça 14 Bis, atualmente restrito à circulação de ônibus.

O viaduto fica no caminho de cerca de 6 km entre a casa do prefeito, no Jardim Europa, na zona oeste, e a sede da prefeitura, no centro da cidade.

A reabertura para carros terá limitações. Apenas veículos com duas pessoas ou mais poderão trafegar na via, das 5h às 21h nos dias de semana e das 5h às 15h aos sábados. Nos demais horários e aos domingos e feriados, o acesso será liberado para todos os veículos, independentemente do número de ocupantes.

O viaduto virou um corredor exclusivo de ônibus em novembro de 2015, em decisão do então prefeito Fernando Haddad (PT). A medida irritou os motoristas, já que os carros passaram a ser obrigados a contornar a praça, em trajeto com semáforos e cercado por moradores de rua.

Segundo a prefeitura, essa mudança viária foi uma iniciativa do secretário Sérgio Avelleda (Transportes), ratificada pelo prefeito, com base em critérios técnicos, que apontariam a subutilização da via pelos ônibus.

No mês passado, em evento da Fecomercio-SP (Federação de Bens, Serviços e Turismo do Estado de SP), Doria já antecipava a medida. "Esse viaduto será aberto para automóvel, vamos acabar com essa história", disse, após ser interrompido por aplausos de diretores de sindicatos patronais. "Tem meio dúzia de ônibus a cada meia hora. Vamos acabar com essa história, isso é uma obviedade, é só ficar aqui e ver. Não precisa nem ser técnico de engenharia de tráfego para uma obviedade desse tipo. As coisas óbvias nós temos que fazer imediatamente, tem que fazer executar."

O secretário municipal dos Transportes diz que esse é o início de um projeto piloto de compartilhamento de carros.

"Não vamos implantar sem uma avaliação. O viaduto apresenta exclusividade para ônibus, mas há um espaço ocioso", afirma Avelleda.

Marlene Bergamo/Folhapress
COTIDIANO - SAO PAULO - Posse de Joao Doria, o novo Prefeito de São Paulo, no Teatro Municipal. - 01.01.2017 - Foto - Marlene Bergamo/Folhapress - 017
Posse de João Doria, o novo Prefeito de São Paulo

Segundo a gestão Doria, passam hoje 120 ônibus por hora e 50 táxis por hora no local. O total esperado no viaduto após a mudança para carros compartilhados, diz a administração tucana, é de 570 veículos por hora, abaixo da capacidade de 800.

Por serem minoria, afirma Avelleda, os carros com mais de uma pessoa não devem atrapalhar os ônibus. Medições sobre os efeitos da medida passarão a ser feitas com o início da ação.

"Em São Paulo, o índice é de 1,7 pessoa por veículo. É uma imensa quantidade de carros circulando com apenas uma pessoa. Com aplicativos é perfeitamente possível que as pessoas façam o compartilhamento de veículos."

Outra questão que pesou na escolha dessa via, segundo ele, é a facilidade de fiscalizar se há menos de duas pessoas nos carros. Trata-se de local fechado, de 600 metros, que pode ser vigiado por dois agentes, um em cada entrada.

Quem usa ônibus criticou a decisão da prefeitura, enquanto motoristas comemoraram. "Transporte coletivo tem que ser priorizado. Se os carros voltarem, quem pega ônibus será prejudicado", disse o bancário Felipe Carvalho, 33. O técnico de TV a cabo Jeferson Lucas, 27, que dirige, afirmou que o trânsito na parte de baixo do viaduto deve melhorar com a medida.

Chamada Doria

ESPECIALISTAS

Especialistas em mobilidade consideram viável a volta dos carros no viaduto da av. Nove de Julho, mas indicam a necessidade de ajustes para que a medida funcione sem problemas.

O consultor Sérgio Ejzenberg, engenheiro e mestre em transportes pela USP, lembra que a tentativa de criar uma faixa para veículos só com mais de um ocupante não deu certo na Radial Leste, devido à dificuldade de fiscalização.

"É uma medida pontual, arbitrária, num trecho minúsculo, bom para gerar fiscalização atrapalhada", diz ele, favorável à total reabertura para automóveis.

Para o consultor Horácio Figueira, a restrição a carros com uma pessoa ameniza o impacto no sistema de ônibus, mas deve ser fiscalizada. O especialista Flamínio Fichmann vê subutilização da via hoje, que sobrecarrega o trânsito na parte inferior do viaduto.

Figueira e Fichmann dizem que pode haver problema no entrelaçamento entre carros e ônibus, pelo fato de o corredor ser à esquerda e as paradas, à direita. Para que a velocidade dos coletivos não seja afetada, sugerem desde um semáforo até a transferência dessa parada à esquerda.


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