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'Não afrontei a população de SP com reajuste', diz presidente da Câmara

Avener Prado/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 02-01-2017: Milton Leite, vereador durante entrevista em seu gabinete. Milton foi eleito presidente da Câmara Municipal de São Paulo. (Foto: Avener Prado/Folhapress, COTIDIANO) Código do Fotógrafo: 20516 ***EXCLUSIVO FOLHA***
Milton Leite, vereador durante entrevista em seu gabinete

Novo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (DEM), 60, diz que abrirá mão do reajuste de seu próprio salário, proposta que ele mesmo assinou em favor dos 55 vereadores.

Porém recorrerá da decisão judicial que barrou o reajuste de 26% (R$ 15 mil para R$ 18,9 mil) aprovado pelos vereadores em menos de cinco minutos na última sessão do Legislativo em 2016.

Dono de uma construtora e vereador pelo sexto mandato, ele discute com o prefeito João Doria (PSDB) a privatização do Carnaval e sugere mudanças no transporte que incluem a eliminação de parte das linhas de ônibus. Leite é ligado a viações e escolas de samba. A seguir, a entrevista concedida à Folha em seu novo gabinete.

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Folha - Em plena crise econômica, com cortes de gastos feitos pelos prefeitos para sanear as contas dos municípios, o sr. não acha uma afronta à população da cidade, que paga os salários dos gestores, um aumento de 26% nos ganhos de vereadores?

Milton Leite - Eu não afrontei, eu prestigiei [a população] e respeitei a crise econômica. Deixei de gastar R$ 200 mil [em verba de gabinete] em 2016. Até ali eu era igual aos demais parlamentares. Fui um dos que mais economizou em favor dos cofres públicos antes mesmo da discussão do projeto, que começou em dezembro. Sobre aqueles vereadores que votaram contra [o reajuste do salário], estou aqui ansioso esperando que eles deem a carta de renúncia dos [aumentos] de salários. Eu vou permanecer com o salário antigo. Eu dei o exemplo.

O sr. não poderia deixar de recorrer da decisão judicial [que veta o reajuste], por exemplo?

Não, porque é de ofício. Isso é obrigação do plenário. O projeto foi corretamente instruído, ou seja, tinha condição de ser votado com a devida fundamentação legal. Ora, se foi votado e aprovado, ele tem que ser defendido. Se eu abrir mão, estou abrindo mão de uma legalidade.

O sr. foi eleito com uma campanha em que gastou R$ 2,3 milhões. O que justifica tamanho investimento para uma cadeira de vereador?

A natureza de um recurso é de fundo partidário. O outro, é pessoal, meu. Sou o presidente do partido e o puxador de votos. Na parte sul da cidade, os tucanos não tinham grande inserção, era tipo como uma mancha vermelha [do PT]. O DEM entendeu que o meio de puxar votos para vereador e para o Doria era investir na minha candidatura.

Em discurso na Câmara, Doria disse aos vereadores: "Tenho certeza que o Legislativo dará demonstrações claras de respeito à transparência e à ética". Nesse contexto, pareceu uma provocação?

Nem um pouco. A Câmara tem defendido as coisa de maneira republicana e com ética.

O que a Câmara quer em troca da governabilidade de Doria?

Dele, muito pouco. Da população de São Paulo, um reconhecimento e melhorar a imagem dos políticos.

O prefeito mandará à Câmara as propostas de privatização do Anhembi, de Interlagos e outras parcerias com a iniciativa privada. Vai ter muita briga na Câmara para votar isso?

Não chamaria de briga, mas a Câmara é reflexo da sociedade. Haverá debates necessários, aqui é o ambiente para isso. Me parece que essa discussão ficará para 2018. Não sei se estarei na presidência em 2018 [o mandato é de um ano].

Na atual composição, haverá votos suficientes para aprovar privatizações e mudanças na lei de uso e ocupação do solo?

Quero crer que sim, pois são equipamentos que vêm dando uma despesa significativa para a cidade. E essas despesas estão pesando na conta do contribuinte sem que haja retorno. Você se esqueceu de falar do Sambódromo. O samba pode ter a diminuição de custos [cerca de R$ 30 milhões atualmente] entregando a Cidade do Samba aos sambistas. Eles podem baixar o custo, podem buscar recursos.

O sr. defende isso num projeto?

Continuamos defendendo. Entregar aos sambistas, para que permita a eles a oportunidade de fazer a gestão e mostrar que são eficientes em baixar o custo do Carnaval no início de cada ano.

Seria uma autogestão? Quem cuidaria seria a Liga das Escolas de Samba?

Pode ser por iniciativa privada. Não necessariamente a Liga. Se põe um projeto de parceria, uma PMI [pedido de manifestação de interesse] para que se veja uma forma.

O senhor defende o quê?

Uma privatização.

Privatizar o Carnaval?

É para que as receitas auferidas pelo Sambódromo sejam voltadas ao Carnaval com o propósito de diminuir custos para a prefeitura. Um equipamento que pode ser usado o ano todo é usado praticamente uma vez. Vou defender um projeto junto ao governo.

Que projeto do Doria hoje a Câmara barraria?

É preciso conhecer. A gente acabou de tomar posse. Deixa ele formatar os projetos dele.

O sr. tem relações com as antigas cooperativas de perueiros [hoje empresas de transporte]. Há um pleito delas para ter maior remuneração. O sr. vai entrar nessa briga?

Há uma licitação a ser feita. Não tenho que ajudar uma empresa ou outra. Essas empresas deverão apresentar suas propostas. O que se sabe é que há diversas contradições que precisam ser corrigidas, já manifestadas por mim e por ele [Doria]. Quais são? As invasões das empresas intermunicipais, sobreposição de linhas, evasões por fraude gravíssimas e ineficiência do sistema. Colocamos ao prefeito antes da campanha. Que eu saiba, ele já está tomando providências. Todos os pontos ele está considerando e serão tratados na licitação.

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Raio-x Milton Leite

Carreira política
Dono de uma construtora desde 1978, se elegeu pela primeira vez como vereador em 1996

Família
Conseguiu eleger seus dois filhos –Milton Leite Filho, que é deputado estadual desde 2006, e Alexandre Leite, que foi reeleito deputado federal em 2014


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