O pai, os avós, os bisavós e antepassados ainda mais remotos de Ocílio Ferraz "fizeram a vida no lombo do burro", como ele costumava dizer. Todos eram tropeiros, pessoas que compunham comitivas (tropas) que cruzavam a região sudeste do país a partir do século XVII, sobretudo da região de Diamantina (MG) até o porto de Paraty (RJ), com ouro e pedras preciosas.
Ocílio dizia que "somos pobres demais para perder nosso passado ou nossa história", como lembra o filho, Dábio, e dedicou a vida a registrar a cultura tropeira.
Nascido em Silveiras, na região do Vale do Paraíba, divisa entre os Estados de SP e RJ, formou-se sociólogo e viveu como produtor rural em Caçapava até os anos 1980. Ambientalista, implantou um centro de educação ambiental, cultural, rural e gastronômico na fazenda onde morava.
Em 1986, ajudou a criar a Fundação Nacional do Tropeirismo, na mesma Silveiras onde nasceu, em um casarão histórico no centro da cidade, com hospedaria, biblioteca e museu do tropeiro.
O reconhecimento veio com o Restaurante do Ocílio, que abriu na Fazenda do Tropeiro em 1988, onde vivia desde então, também em Sileiras. Além do feijão tropeiro e arroz com urucum, entre outros pratos típicos, foi com a iguaria içá (formiga frita) que ganhou o mundo –apareceu duas vezes nas páginas do "New York Times". Era membro honorário da Academia Brasileira de Gastronomia.
Morreu no último dia 18, por complicações decorrentes de uma doença intestinal nunca decifrada por completo. Deixa a mulher, Helenita, dois filhos e quatro netos.
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