Folha de S. Paulo


João Inocêncio Galassi (1946-2016)

Mortes: Um mestre do português e de outras línguas

Todo dia o legado lhe surgia na rua a sorrir. Era João sair com a cadela Cléo no jardim público de Rio Claro, como fazia desde que se aposentara, e um e outro ex-aluno o parar para prosear.

Lembravam da verve do professor –como quando cantara o hino da Rússia em russo e declamara Manuel Bandeira. Juntos choravam e riam. Pois mais de uma geração no interior paulista chegou aonde chegou graças ao "mestre Galassi".

Deu a primeira aula particular, de português, aos 16. Logo lecionava alemão (estudava no colégio germânico) e francês –a mãe nascera na França e não falava outra língua.

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João Inocêncio Galassi (1946-2016)
João Inocêncio Galassi (1946-2016)

Formou-se em letras e passou a dar aula em escolas. A língua lusa seria o metiê oficial: foi até colega do professor Pasquale em Campinas. Mas, autodidata inquieto, mergulhou também no aprendizado de outras línguas.

De sua biblioteca de 3.000 volumes tirava gramáticas e compêndios. Assim –e em cursos à distância–, aprendeu russo, árabe, latim. E lecionou todas.

Tinha suas táticas. Mapeava a estrutura, a fonética, comparava as línguas e arrancava-lhes a essência. "Falava mais de 20", diz a filha, Neli. Até esperanto. Alguns dos certificados, porém, acabavam não reconhecidos. Pensou até em queimá-los.

Foi o intelectual de Rio Claro no programa "Cidade Contra Cidade", de Silvio Santos. Lecionou para os três filhos. E ria com a mulher, Cleonice, ao lembrar quando ele, enquanto lhe declamava versos, deixou a caminhonete descer a ladeira e chocar-se com uma roda gigante.

Morreu dia 17, aos 70, de infarto. E entrou para a história local como o sábio gigante do interior.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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