Folha de S. Paulo


Amigo secreto tem trapaça paga e até briga judicial após descrição de colegas

Fernando Gonsales/Folhapress

Confraternização ou cilada? Amigos secretos podem ser ocasiões tanto para trocar presentes e fortalecer amizades como para presenciar gafes e assistir ao surgimento de novos desafetos.

Para a professora da rede estadual paulista Mariana (nome fictício), nunca foram eventos festivos. "Da primeira vez que participei, meu amigo não foi", diz ela, que prefere não ter sua identidade publicada.

O pior, no entanto, estava por vir. Foi em 2004. Naquele ano, a festa de confraternização de Natal dos professores de Botucatu foi parar na polícia. Ainda hoje, após mais de uma década de recursos, aguarda um desfecho na Justiça. A decisão final deve sair nas próximas semanas.

O processo opõe Mariana a três outros professores da cidade de Botucatu, a 230 km da capital paulista.

Segundo ela, era um "inimigo secreto", a versão do jogo em que os participantes trocam presentes que não gostariam de ganhar, ou que façam troça do sorteado. "A gente se preocupa em levar um presente bacana, mas as pessoas passam dos limites", lembra ela.

A professora relatou à polícia ter se sentido humilhada, no momento da revelação do sorteio, com "gestos e palavras ofensivas". Ela se recusa a detalhar o que de tão grave aconteceu.

Convocadas à delegacia, testemunhas disseram não se lembrar do ocorrido. Diante do ocorrido, os colegas denunciados por Mariana também se ressentiram.

Alegaram ter feito apenas uma brincadeira e foram à Justiça pedir indenização por danos morais por causa do inquérito policial. A reportagem não conseguiu contato com eles. A professora também pede uma indenização pelo constrangimento que diz ter passado.

Em primeira instância, os pedidos de todos eles foram negados. Há duas semanas, o processo foi disponibilizado para novo julgamento. Será analisado novamente por desembargadores.

Independente do desfecho, a professora diz que não quer mais saber de amigo secreto. "Essa festinha para mim não tem sinceridade."

AMIGO À VENDA

Para evitar constrangimentos como esses, entre desafetos, o Amigo Secreto, site especializado na brincadeira, lançou uma nova –e controversa– funcionalidade: por até R$ 49 é possível "comprar" um amigo secreto, ou seja, escolher quem vai tirar. Por até R$ 29, pode-se excluir três desafetos da lista de seus possíveis sorteados.

O mecanismo foi alvo de críticas de usuários da página, que veem nele a capacidade de manipular a brincadeira tradicional.

O dono do site, Marcelo Abrileri, se defende e diz que é uma possibilidade de trazer para o jogo pessoas que não participariam dele para evitar tirar alguém.

Além disso, argumenta, não se trata de algo novo. "As pessoas já trocavam os papeizinhos antes."

Abrileri não revela números, mas diz que, pelo menos no mundo virtual, a amizade venceu o ressentimento. Segundo ele, a opção que teve mais adeptos é a que permite ao usuário pagar para escolher o seu amigo.

ETIQUETA

Consultora de etiqueta profissional, Romaly de Carvalho diz que consultas sobre amigos secretos são comuns nessa época do ano.

Para ela, planejamento é a palavra-chave da brincadeira. "O ideal é pensar em um presente personalizado e fugir de meias e agendas", por exemplo.

Inimigos secretos, em sua avaliação, são ciladas, mas não participar pode pegar mal no ambiente de trabalho, diz: pode demonstrar falta de espírito de equipe.

Ainda assim, a regra é simples: precisa ter noção. "Presentes que remetam ao universo erótico devem ser evitados, por exemplo", recomenda a consultora.

Em sua opinião, para evitar gafes, é preciso antes de tudo levar a brincadeira a sério. "Quem não se prepara para o futuro planta o fracasso", filosofa.


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