O Rio sempre teve em sua história uma claque de dândis a enfrentar mal o calor com luxo europeu. Até que Julio Rego, "um dândi de puxar pigarro de desconforto em qualquer outro dândi", como disse um colunista, redefinisse ele próprio a noção de elegância nos trópicos globais.
"Era o ícone de um Rio antigo, um gentleman do tempo dos malandros da Lapa", diz o estilista Carlos Tufvesson. Não se conformava que o carioca suasse vestindo-se como europeu crendo-se refinado. Adaptou a alfaiataria inglesa a tecidos leves de fibra natural: uma gravata-borboleta aqui, um jeans ali, um All Star acolá. Mas tinha seus limites. "Detesto essa coisa de bermuda à noite", disse certa vez.
Por 20 anos trabalhou no setor financeiro, mas já desfilando suas calças claras, camisas leves, panamás e óculos escuros. Até ser chamado para criar o setor masculino da Casa Alberto e seus looks chamarem a atenção de Boni, que o convidou para ser consultor dos apresentadores do "Bom dia Brasil". Ali teve o quadro "Com que roupa?"
Vestiu Jô Soares e, boêmio, viveu a fundo a "nightlife" com o "jet set" carioca. Gostava de turfe, sabia os pedigrees. E admirava a elegância do duque de Windsor. Mas andava cansado. O Rio virara um "balneário decadente". E o Brasil, inviável. Estava difícil ser elegante por aqui.
Há meses, escrevia suas memórias. Falaria de amores com os homens mais charmosos do Rio, do porre com Frank Sinatra e de moda. "Tô velho e minha mãe já morreu, então, posso contar tudo." Morreu antes, dia 5, de câncer, aos 78 anos. No velório, estava elegante como nunca.
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