Folha de S. Paulo


Elize não esquartejou marido vivo, diz perito em depoimento de dez horas

Suamy Beydoun/Agif/Folhapress
Elize Matsunaga, que matou e esquartejou o corpo do marido Marcos Matsunaga, herdeiro do grupo Yoki, aguarda início do seu julgamento no Fórum Criminal da Barra Funda nesta segunda-feira (28).
Elize Matsunaga durante sessão do julgamento na segunda-feira (28)

Em um depoimento que durou cerca dez horas nesta sexta-feira (2), quinto dia de julgamento de Elize Matsunaga, o legista e perito criminal Sami El Jundi disse que a morte de Marcos Matsunaga se deu instantemente com a explosão do projétil da arma de fogo.

Assistente da defesa, Jundi também afastou a possibilidade de a vítima ter sido esquartejada ainda em vida já que, segundo ele, exames realizados após a exumação não detectaram sinais vitais nas partes em que ocorreram os cortes. "Não tenho dúvidas. Foi o tiro."

Essas informações são importantes para o futuro de Elize porque, mesmo sendo ré confessa da morte e esquartejamento do marido em 2012, as qualificadoras do crime (que aumentam a pena) serão definidas pelo entendimento dos jurados, entre outros pontos, se a vítima sofreu com o esquartejamento e se ela teve chance de defender.

A outra discussão ocorreu sobre o motivo que levou a ré a matar o marido. A Promotoria sustenta que o motivo é torpe, ligado apenas a interesses de vingança (pela traição) e pelo dinheiro.

Sem as classificadoras, Elize deve pegar de 6 a 20 anos de prisão e pode pedir progressão de pena após o cumprimento de um sexto da pena. Como já cumpriu 4,5 anos, poderá até sair do julgamento com alvará de soltura.

Com o que sustente aumento da punição, o crime se torna hediondo –a pena vai de 12 a 30 anos de prisão, com possibilidade de progressão de pena após o cumprimento de dois quintos.

O depoimento do perito convergiu em muitos pontos com o depoimento do assistente da acusação, o médico legista Carlos Alberto Coelho (também ouvido no júri ) –em especial, que Elize pode ter cometido todo o crime sozinha. As marcas diferentes de corte não são indicativos de uma terceira pessoa, como sustenta a acusação.

A versão de Jundi contraria totalmente a versão apresentada pelo legista, responsável pela necropsia das partes do corpo da vítima, o médico Jorge Pereira de Oliveira, que, no julgamento, disse acreditar que a causa morte foi a asfixia pela aspiração de sangue. Algo só possível em virtude do movimento pulmonar, assim, ainda em vida.

O assistente da defesa explicou aos jurados que o sangue detectado pelo médico no sistema respiratório se deve ao escorrimento para orifício aberto pela decapitação (que deixou a traqueia exposta), por força gravitacional, e não pelo movimento pulmonar.

As explicações causaram especial interesse dos jurados que fizeram ao menos 60 perguntas em quase duas horas de questionamentos enviados em bilhetes.

Para ilustração ao júri, o perito explicou que o disparo feito por Elize atingiu uma área do cérebro procurada por atirados de elite que, quando acertam, conseguem incapacitar o alvo imediatamente. Quem é atingido, caso esteja armado, não consegue sequer puxar o gatilho.

Ainda faltam duas testemunhas, que são amigas de Elize, para serem ouvidas. E, assim, o julgamento se estendera pelo final de semana.


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