Folha de S. Paulo


CARLOS ALBERTO SOLITO (1959-2016)

Mortes: Selvagem goleiro da democracia corintiana

Fernando Santos - 28.out.2003/Folhapress
Solitinho, então preparador de goleiros do Corinthians
Solitinho, então preparador de goleiros do Corinthians

Era um sábado de 1982, dia do último treino do Corinthians para a final do Paulista, quando o fusca azul de Solitinho buzinou na casa do irmão. Ao lado ia Casagrande –"ambos trêbados", lembra Cláudio Solito. "Eu disse: perderemos o campeonato." Foram bicampeões. Solitinho estava no auge.

Das peladas no Bom Retiro até as categorias de base do time do peito foi um pulo. O irmão dera o caminho. Quando quis ser ponta, aos 12, Cláudio já defendia o gol nos juniores. Um dia o goleiro do dente de leite faltou e Carlos foi escalado –arrebentou. Assim, chegavam juntos ao time profissional: Solito goleiro, Solitinho seu reserva.

Era o tempo da Democracia Corintiana, da liberdade total dentro e fora do campo. Loiro de olhos azuis –"boa-pinta demais"–, perdeu-se na noite. "Fui um bicho que saiu da jaula e ninguém conseguia segurar", disse certa vez. Cláudio tentou. "Mas ele era indomável. Só jogava por prazer."

Em 1984, cansou do banco. Buscou outros times. Desistiu. Foi vendedor de loja até que o Corinthians o quis como treinador de goleiros da base. Encontrou-se. Forjando gerações, de Rubinho a Yamada, fez as pazes com a bola. Chegava, como não, à seleção –seu suor estava com os goleiros canarinhos treinados por ele.

Casou e teve um filho. Sossegou. Um câncer na coluna o levou à cadeira de rodas. Quando morreu de hemorragia interna, no dia 21, aos 56, estava tranquilo. Pediu que as cinzas fossem jogadas no "terrão" onde jogavam os times de base do Corinthians. Ali, o mais selvagem dos goleiros achara, enfim, seu lugar.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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