Para viabilizar a venda do autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, o engenheiro Wilson Poit, 58, futuro secretário de Desestatização e Parcerias da gestão João Doria (PSDB), admite que o dono do local poderá "eventualmente" construir prédios residenciais ao lado da pista, que precisará ser mantida.
Em entrevista à Folha, Poit, que é filiado ao Partido Novo, diz que outro atrativo será a possibilidade de fazer shopping, restaurantes e hotelaria no espaço privatizado, que ele considera ser "uma joia" também para shows.
Após atuar por 35 anos na iniciativa privada, ele dá um recado: "Com todo respeito à classe política, os empresários do Brasil precisam ir mais à reunião de condomínio. Não adianta reclamar de tudo, mas não ir às reuniões."
| Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
 |
||
| O futuro secretário de privatizações, Wilson Poit |
Poit trabalhou por quase dois anos na área de negócios na gestão Fernando Haddad (PT). Agora, vai comandar as privatizações e concessões de Doria, uma das principais promessas do tucano.
Ele admite a hipótese de o estádio do Pacaembu, sob gestão privada, ganhar cobertura e abrigar outros tipos de evento além de futebol.
Em relação ao parque Ibirapuera, afirma que a receita de quem assumir "virá dos estacionamentos, do setor de alimentos e bebidas, de um restaurante muito bacana, das bikes e dos shows".
O futuro secretário promete ainda retomar a PPP da iluminação pública, lançada na administração Haddad.
Segundo especialistas, as privatizações planejadas por Doria devem enfrentar uma série de obstáculos, incluindo a crise econômica, a dificuldade de atrair interessados devido às características de alguns equipamentos e a resistência de moradores no entorno das áreas e de órgãos do patrimônio histórico.
*
INTERLAGOS
O lugar é uma joia. Levamos o Lollapalooza para lá [na gestão Haddad]. É um evento de 160 mil pessoas e 60% do público é de fora, por isso dorme na cidade por três noites. Podemos alugar o espaço da grama de Interlagos [para show]. Em 2014, após 20 anos, o balanço do autódromo entrou no azul pela primeira vez.
Vamos ouvir as pessoas para fazer o edital. Poderemos ter shopping, grandes restaurantes, museus de automobilismo, hotelaria e eventualmente empreendimentos imobiliários residenciais. A pista será usada alguns dias do ano pela prefeitura.
PACAEMBU
O estádio do Pacaembu é um dos melhores lugares para assistir futebol no Brasil. As estatísticas do primeiro semestre mostram que o estádio foi um dos que mais recebeu jogos. Mas os banheiros e o estacionamento, por exemplo, precisam ser renovados.
Temos vários exemplos pelo mundo, como em Berlim, de estádios históricos que foram cobertos, sem atrapalhar o patrimônio histórico.
Não está definido se vai ser apenas futebol. Mas outros tipos de eventos, mesmo esportivos, como rúgbi, podem talvez caber ali. Ele tem vocação forte para o futebol, mas vamos lembrar que o estádio tinha uma concha acústica [onde hoje é o tobogã].
O prefeito Haddad, no ano passado, fez uma concessão para o Pacaembu. Uma correção que pode ser necessária é abrir mais o edital, não deixar ele fechado no futebol.
IBIRAPUERA
As contas que fizemos sobre a concessão do parque fecham. O Ibirapuera não vai ter dinheiro público. Será uma concessão clássica, que pode ser gerida por organizações sem fins lucrativos ou empresas que visem o lucro.
Podemos oferecer serviços mais dignos, sem nunca cobrar ingresso. A receita virá dos estacionamentos, do setor de alimentos e bebidas, de um restaurante muito bacana, das bikes e dos shows. A taxa que se paga por um show no Ibirapuera pode ser mais disciplinada. Vamos cobrar e fiscalizar um parque limpo.
ANHEMBI
O Anhembi é um endereço especial, perto das marginais, próximo dos aeroportos e pertinho do metrô. Vão ser três lotes, as instalações das convenções, o espaço de exposição e vamos revisar a proposta para juntarmos a arena multiúso ao sambódromo. O projeto da arena está maduro para ser assinado.
São Paulo tem boas áreas de exposição, mas falta um grande centro de convenções para milhares de pessoas. Podemos receber uma proposta abrangendo as três partes.
Podemos colocar nos editais regras para manter os bons profissionais do setor público.
ILUMINAÇÃO
A PPP da iluminação pública [lançada por Haddad] é um projeto muito bom. No Brasil temos ao menos 40 cidades que trocaram lâmpadas normais por de LED. A economia é tremenda, a conta se paga. Existem luminárias que avisam uma central de comando que a lâmpada queima.
O projeto parou, talvez, por causa do momento do país. Agora temos um momento mais apropriado.
CARGO PÚBLICO
Estou em uma fase que gostaria de ver muitos empresários ajudarem. Minha bandeira é bastante alinhada com a do Doria. O tamanho do Estado tem que ser reduzido para não sobrar para o contribuinte.
O verdadeiro gerador de riqueza é o empreendedor. O Estado tem que focar energia em educação básica, saúde e segurança. Nos dois anos da gestão Haddad pude conhecer melhor a periferia. Enquanto não dermos vida mais digna para a sociedade não faz sentido a prefeitura ter ativos.