Folha de S. Paulo


Luiz Rassi (1920-2016)

Mortes: Preciso e elegante com o bisturi

Arquivo Pessoal
Luiz Rassi (1920 - 2016), em viagem à Argentina em 1992
Luiz Rassi (1920 - 2016), em viagem à Argentina em 1992

Assistentes e enfermeiras concordavam: o médico mais longevo do hospital São Salvador, em Goiânia, operava de forma "elegante". "O doutor não suja o campo", diziam, admirados que ele adentrasse em silêncio a sala de cirurgia, conduzisse-a qual um baile e, não raro, findasse de luvas limpas. Cada corte, diz a filha, Mônica, teria "toda a precisão do bisturi".

Luiz pediu ao pai para estudar e ganhou a espera. Assim faziam os imigrantes libaneses: estudava um filho por vez. A sua chegaria.

Nascido em Cuba, veio aos quatro anos para o Brasil –parentes mascates viviam ao longo da estrada de ferro de Goiás. Cresceu no armazém de secos e molhados: era o trem apitar e ele correr atrás dos clientes.

Só quando o irmão mais velho voltava do Rio, já médico, pôde formar-se na Faculdade Nacional de Medicina, pupilo do cirurgião Pedro Moura. Quando voltou a Goiás, para a clínica do primogênito, o caçula partia –assim formaram cinco médicos na família.

Em 1950, fundou a Associação Médica de Goiás e convidou Moura, que trouxe a filha –que seria mulher de Luiz por 51 anos. Na faculdade de medicina da UFG, que ajudou a fundar, foi professor titular de cirurgia até se aposentar, compulsoriamente: tinha, então, conhecidos artigos publicados sobre suas técnicas esofágicas. Operou até os 82; atendeu até os 85.

Só a viuvez mudou seu foco. Desde 2005, toda semana, enfeitava o túmulo de Lygia com crisântemos frescos. Morreu dia 12, do coração, aos 96. Deixou quatro filhos, quatro netos e uma medicina um pouco mais elegante.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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