Folha de S. Paulo


Após crise, 'turismo do Cantareira' celebra volta de água e de clientes

"Era daqui que todos tiravam aquelas fotos de chão vermelho e trincado", lembra Sidney Trindade, 50, apontando para um monte de água na represa Jaguari-Jacareí, a maior do sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da Grande São Paulo.

Proprietário de uma marina às margens do manancial, em Bragança Paulista (a 85 km de SP), ele comemora a recuperação da represa.

"Com o cenário bonito de novo, a clientela começou a voltar já no inverno. Os chalés alugados foram de 35 para 50 [antes da crise eram 70], e as embarcações, que eram umas 70, agora já chegam a 120 [eram cerca de 200]", diz.

Sidney Trindade/Arquivo Pessoal
Imagens da represa Jaguari-Jacareí em janeiro de 2011, fevereiro de 2015 e outubro de 2016 (da esq. para a dir.)
Imagens da represa Jaguari-Jacareí em fevereiro de 2015 (esq.) e em outubro de 2016 (dir.)
Sidney Trindade/Arquivo Pessoal
Imagens da represa Jaguari-Jacareí em janeiro de 2011, fevereiro de 2015 e outubro de 2016 (da esq. para a dir.)
Imagens da represa Jaguari-Jacareí em janeiro de 2011, fevereiro de 2015 e outubro de 2016 (da esq. para a dir.)

Trindade também já contratou sete funcionários após as 25 demissões ocorridas durante a seca de 2014 e 2015.

O sistema Cantareira estava nesta terça-feira (1º) com 55,9% de sua capacidade, volume cinco décimos maior que o do mesmo dia de 2012, antes da crise hídrica.

No ano passado, o percentual era em torno de 12,4% e estavam em uso duas reservas técnicas do volume morto –água do fundo da represa retirada com bombas.

Considerando só a represa Jaguari-Jacareí, a recuperação é ainda maior: ela passou de 1,8% de sua capacidade, em 1º de novembro de 2015, para 55,9% um ano depois.

Além de Bragança, a melhora é sentida também em outras cidades que abrangem o sistema Cantareira.

Em Joanópolis (a 112 km de SP), Paulo Bonande, 60, comemorava, na semana passada, o retorno dos píers de sua pousada à água.

"Na primeira semana de novembro vai ser a vez da chalana começar a circular depois de dois anos parada", dizia ele, enquanto lembrava a pior crise em seus 21 anos de negócios às margens do Cantareira. "Só um teimoso como eu pra continuar."

Lá perto, em Nazaré Paulista (a 64 km de SP), Marco José Cardoso também falava animado sobre a volta dos clientes ao seu clube náutico.

"Estou trabalhando no limite. É difícil retomar os clientes, mas eles já estão voltando, alguns antigos e até alguns novos. Com o verão isso deve melhorar", analisa.

Segundo Ronaldo de Souza Leme, 38, secretário de Governo de Joanópolis, a maior parte dos estabelecimentos precisou se reinventar para permanecer aberto durante o período de seca da represa.

"Todos sentiram o baque, mas, sem chalana e passeio de barco, começaram a contratar shows, a explorar a área social dos imóveis, a atrair grupos empresariais. Foi o que ajudou todos a aguentarem até a retomada dos passeios agora."

PREVISÃO DO TEMPO EM SÃO PAULO -

APREENSÃO

Apesar das expectativas positivas, quem depende do Cantareira segue apreensivo.

Trindade mantém os dois monitores do seu computador ligados nos sites do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) e da Sabesp -companhia paulista de abastecimento, ligada à gestão Geraldo Alckmin (PSDB). Acompanha a água que entra e sai da represa e sempre sabe quando há previsão de chuva.

"É desse lado que tem que chover. Se for daqui pra baixo não vai adiantar nada", diz, apontando para a represa.

Já Bonande ainda não está recebendo visitantes durante os dias de semana, como fazia antes da crise.

"Recuei até quase zero, e recomeçar agora, com os 60 anos, não dá muita coragem", desabafa.

ABRE E FECHA NO FERIADO -


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