Folha de S. Paulo


PM interrompe peça de teatro em praça e prende ator em Santos

Uma peça de teatro apresentada em uma praça foi interrompida por policiais militares em Santos (a 72 km de São Paulo, no litoral) por volta das 18h deste domingo (30). Um ator foi detido.

Os intérpretes do grupo de teatro Trupe Olho da Rua apresentavam o espetáculo "Blitz - O Império que Nunca Dorme", que satiriza o poder do Estado e da mídia, quando foram interrompidos pelos policiais militares.

No momento da ação da polícia militar, a bandeira do Brasil estava hasteada de cabeça para baixo e o hino nacional era tocado.

Reprodução/Facebook
PM interrompe peça de teatro em praça e prende ator em Santos, no litoral paulista
PM interrompe peça de teatro em praça e prende ator em Santos, no litoral paulista

Os intérpretes estavam vestindo fardas e saias que lembram as roupas da Polícia Militar paulista. Também usavam máscaras representando animais.

O ator Caio Martinez Pacheco foi detido e levado ao 1º Distrito Policial de Santos. Os policiais apreenderam celulares e equipamentos do grupo de teatro, como caixas de som e instrumentos musicais.

Pacheco relata que, quando os policiais o identificaram como responsável pela peça, deram-lhe voz de prisão. Ele se recusou a entrar no carro de polícia. "Então me algemaram de maneira brutal e me levaram", afirma.

O ator diz que, na delegacia, foi informado de que o levaram por "desrespeito ao símbolo nacional", desacato e resistência. Ele deixou a delegacia por volta das 23h30.

De acordo com Raquel Rollo, atriz e produtora da Trupe Olho da Rua, o grupo já havia se apresentado mais de 20 vezes naquela praça, inclusive na presença de policiais, mas "nunca houve isso".

"Fomos surpreendidos por essa abordagem da polícia, que se incomodou com os signos colocados no espetáculo. Porque aborda exatamente a violência do Estado", disse Raquel.

Segundo a Polícia Civil, os PMs disseram que a apresentação era "uma afronta".

Com exceção da bandeira do Brasil, o material apreendido pela PM foi devolvido, de acordo com a Polícia Civil.

A Secretaria da Segurança Pública diz que o Comando do Policiamento da Baixada Santista (CPI-6) requisitou os registros documentais da ocorrência e apura as circunstâncias dos fatos.

"A oficial que comandou a ação será ouvida e os organizadores do evento também serão chamados para prestarem informações", disse a pasta, em nota.


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