Folha de S. Paulo


Elisson Alain Miranda (1968-2016)

Mortes: 'O Bebi', retrato de tempos modernos

Foi um caminho peculiar para a fama. Quando a Lei Seca entrou em vigor e o YouTube explodia, em 2008, Elisson Miranda foi detido em Belo Horizonte, alcoolizado e de pijama –havia fugido após a batida. Aos jornalistas, ali para o espetáculo, disse: "Bebi, bebi, bebi", frase que virou um mantra nas redes sociais. Meses depois, quando teve a habilitação cassada (a primeira no Estado com a nova lei), já era o "bêbado de pijama".

Miranda foi preso outras três vezes. Na última, bateu em um posto de gasolina, no dia em que a Lei Seca fazia três anos. A cada vez, pipocavam vídeos nas redes sociais.

"O Bebi" voltava à tona, assim como a tênue fronteira entre humor e desgraça alheia –uma pesquisadora publicou um artigo em que definia o caso como "violência simbólica".

Até dar um basta e, após meses sem beber, virar garoto-propaganda de uma campanha de conscientização. "Sou pela vida. Dirijo sem bebida" dizia a camisa que usou nos bares da cidade, enquanto conscientizava os clientes na blitz educativa da PM. Fãs tiraram fotos. O tema e o personagem eram os mesmos - o show, diferente. "Quero servir de exemplo", disse.

Era a redenção. Treze quilos mais magro, candidatou-se em 2012 a vereador pelo PRTB –o santinho pedia voto no "Bebi". Não foi eleito.

Na quarta-feira (12), voltou-se a falar dele. Embriagado, segundo testemunhas, subiu no telhado. Morreu de traumatismo craniano, aos 47 anos. Nos sites, o tom era sóbrio. Mas junto havia o indefectível link para o vídeo que fez dele um personagem tragicômico, dizendo: "Bebi, bebi, bebi".

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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