Folha de S. Paulo


Beltrame escolhe subsecretário como seu sucessor na Segurança do Rio

O mais longevo secretário da Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, vai deixar na semana que vem o cargo que ocupa há quase dez anos.

O pedido ao governador interino Francisco Dornelles (PP) ocorreu logo após um intenso tiroteio próximo a Copacabana, na zona sul do Rio, em que três supostos criminosos foram mortos na favela Pavão-Pavãozinho. Beltrame indicou para substituí-lo o subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, Roberto Sá, que assume na segunda (17).

Reprodução/Twitter SegurancaRJ
Sucessor de Beltrame, Roberto Sá (direita) recebe a Medalha Flávio Duarte por dedicação ao processo de pacificação durante cerimônia no último dia 3, no Rio
Sucessor de Beltrame, Roberto Sá (direita) recebe a Medalha Flávio Duarte por dedicação ao processo de pacificação durante cerimônia no último dia 3, no Rio

O delegado federal encerrará seus nove anos, nove meses e 16 dias tendo implementado e visto decair um dos programas de maior sucesso na área de segurança pública, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). A nomeação de Sá, responsável pelo planejamento das unidades, indica que a política para área pouco mudará.

Contudo, a crise financeira dos últimos anos se impõe como principal desafio. Sá assume a pasta com uma dívida de R$ 95 milhões –cerca de um terço do seu orçamento. "Temos muito a agradecê-lo [Beltrame]. Roberto Sá vai assumir para dar prosseguimento à nossa política de segurança, que, apesar dos problemas, teve muito avanços", afirmou, em nota, o governador licenciado Luiz Fernando Pezão (PMDB).

"Sempre falei que segurança pública é uma luta interminável. Temos que encarar esse desafio como uma corrida de revezamento. Num momento temos que passar o bastão para outra pessoa. Minha cota desse revezamento foi feita", disse Beltrame ao RJTV, da TV Globo.

A cientista social Silvia Ramos, coordenadora do CESeC (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes), aprovou a escolha de Sá. "Ele tem muito respeito das polícias e dos pesquisadores. O importante é que ele não vai pegar o bonde andando", afirma a especialista.

Beltrame foi nomeado no início da gestão Sérgio Cabral (PMDB), em 2007 –até 2006, foi delegado federal no Rio, investigando as facções criminosas do Estado.

Gaúcho de Santa Maria, ele marcou sua gestão pela criação das UPPs no fim de 2008. O projeto teve bons resultados de início, mas a partir de 2012 sofreu com a falta de recursos e ataques de criminosos. Há hoje 38 UPPs, muitas delas sob fogo cruzado, assim como ocorria à época de sua criação.

"UPP foi uma anestesia dada num paciente que precisava de uma cirurgia. Essa cirurgia ou não foi feita ou foi mal feita, ou foi feita aos pedaços. Tem um rumo, há um norte para a solução", disse ele, sobre os problemas atuais do projeto.

A saída de Cabral e a relação protocolar com Pezão, que assumiu em março de 2014, fez Beltrame pensar em sair há dois anos. Convencido a permanecer, disse que teria como limite a Olimpíada. Contudo, a falta de investimentos, atrasos nos salários e o estilo de Pezão o fizeram se queixar diversas vezes a Cabral.

Sá assume sob o risco de paralisação da tropa caso haja novos atrasos nos salários, o que é iminente. De acordo com o secretário, o governo não tem recursos para pagar os salários de dezembro e o 13º. "Eu falo para os policiais para que se preparem para uma situação muito difícil, de constrangimento muito grande", disse Beltrame à TV Globo.

CRIMINALIDADE

Em 2006, antes da chegada de Beltrame, o Estado teve taxa de homicídios de 41,3 casos por 100 mil habitantes. No ano passado, a taxa foi de 25,4 assassinatos por 100 mil habitantes. O menor índice de homicídios (25,1) aconteceu em 2012. Na capital, o melhor resultado foi obtido no ano passado –taxa de 18,5.

Beltrame costuma atribuir o resultado também à premiação aos policiais por metas alcançadas e à criação da Divisão de Homicídios, que aumentou a resolução de crimes.

Contudo, sua gestão também teve recordes negativos. Foi em 2007, ano anterior à criação da primeira UPP no Dona Marta, que o Estado registrou a maior taxa de mortes por ação policial. Foram 1.330 casos, o que equivale a 8,6 mortes a cada 100 mil habitantes. A menor taxa de sua gestão foi em 2013, com 2,5.

Beltrame responde a uma ação civil pública em razão do contrato de gestão terceirizada da frota da PM. Ele é réu em um processo em que a Promotoria aponta superfaturamento no contrato. Ele nega as acusações.

Taxas sob gestão Beltrame


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