Folha de S. Paulo


Raimundo Nonato da Luz Soares (1965 – 2016)

Mortes: Tãgaha, pássaro cantor e peixeira de baiano

Tãgaha Soares não perdoava: com sua acidez, colecionou desafetos na carreira como jornalista. Mas era muito perdoado: com sua lábia, também acumulou amigos.

Nascido Raimundo, em Bujaru (PA), estudou em um seminário de padres em Belém. O sacerdote responsável fugiu quando a comunidade local descobriu que ele comungava de ideais socialistas, e todos seus alunos foram expulsos, conta o filho, Oscar.

Encrenqueiro, como lembra o filho, pintou a frase "Tá na hora, político safado, de trabalhar pelo povo que te elegeu" na fachada da própria casa, como provocação a um político da pequena Bujaru.

Nunca mais arrumou emprego na cidade. Foi tentar a vida em Macapá, terra natal da mulher, e começou a trabalhar em jornais locais.

Fez carreira no "Jornal do Dia" e na "Folha do Amapá" como repórter, redator e editor. "Era uma peixeira de baiano na Redação. Era ácido. Acredito que fez mais inimigos que amigos por isso", afirma o filho, rindo.

Músico, recebeu o "Tãgaha" após um cacique ouvi-lo cantar. Tangará é o nome de um pássaro conhecido pelo canto e pela plumagem azul. Passou a usar a alcunha para assinar os textos, abandonando de vez o Raimundo.

Apaixonado pela cultura latino-americana, irritava os filhos quando colocava música peruana para tocar em casa. "Ele amava, mas a gente odiava", recorda-se Oscar.

Sofreu um infarto fulminante e morreu no último domingo (25), aos 50 anos. "Como ele mesmo costumava brincar: 'quando foi ver, tava morto'", lembra Oscar. Deixa três filhos e uma neta.

Arquivo Pessoal
O jornalista Tãgaha Soares com a neta, Ana Luiza, em setembro deste ano
O jornalista Tãgaha Soares com a neta, Ana Luiza, em setembro deste ano

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missas


Endereço da página:

Links no texto: