Tãgaha Soares não perdoava: com sua acidez, colecionou desafetos na carreira como jornalista. Mas era muito perdoado: com sua lábia, também acumulou amigos.
Nascido Raimundo, em Bujaru (PA), estudou em um seminário de padres em Belém. O sacerdote responsável fugiu quando a comunidade local descobriu que ele comungava de ideais socialistas, e todos seus alunos foram expulsos, conta o filho, Oscar.
Encrenqueiro, como lembra o filho, pintou a frase "Tá na hora, político safado, de trabalhar pelo povo que te elegeu" na fachada da própria casa, como provocação a um político da pequena Bujaru.
Nunca mais arrumou emprego na cidade. Foi tentar a vida em Macapá, terra natal da mulher, e começou a trabalhar em jornais locais.
Fez carreira no "Jornal do Dia" e na "Folha do Amapá" como repórter, redator e editor. "Era uma peixeira de baiano na Redação. Era ácido. Acredito que fez mais inimigos que amigos por isso", afirma o filho, rindo.
Músico, recebeu o "Tãgaha" após um cacique ouvi-lo cantar. Tangará é o nome de um pássaro conhecido pelo canto e pela plumagem azul. Passou a usar a alcunha para assinar os textos, abandonando de vez o Raimundo.
Apaixonado pela cultura latino-americana, irritava os filhos quando colocava música peruana para tocar em casa. "Ele amava, mas a gente odiava", recorda-se Oscar.
Sofreu um infarto fulminante e morreu no último domingo (25), aos 50 anos. "Como ele mesmo costumava brincar: 'quando foi ver, tava morto'", lembra Oscar. Deixa três filhos e uma neta.
Arquivo Pessoal | ||
O jornalista Tãgaha Soares com a neta, Ana Luiza, em setembro deste ano |
coluna.obituario@grupofolha.com.br
-