Folha de S. Paulo


Usado como delivery, motorista de Uber leva de roupa a pizza em SP

Reinaldo Canato/Folhapress
Dona de uma pizzaria, Eide Melman já usou Uber para entregar pizza a um bairro distante
Dona de uma pizzaria, Eide Melman já usou Uber para entregar pizza a um bairro distante

No lugar de um passageiro, uma pizza. Ou um bolo, ternos, caixas misteriosas e até um lanche do McDonald's. Motoristas do Uber estão sendo chamados para fazer entregas, embora essa modalidade não esteja prevista nos termos do serviço.

Dona de uma pizzaria na Vila Mariana (zona sul), Eide Melman, 63, recebeu um pedido de um cliente que morava no Tatuapé (zona leste), fora da região de entrega do restaurante. Sugeriu que chamasse um Uber. Ele acatou. Há um mês, ela usou o mesmo recurso para levar à pizzaria um liquidificador que estava em sua casa. "É mais acessível e barato", diz.

Serviços de entrega do Uber –em duas modalidades, uma apenas para mercadorias e outra para alimentação– existem em dez cidades do mundo, como Nova York, onde as corridas podem ser feitas de carro, a pé ou de bicicleta.

Apesar desse tipo de uso estar disseminado em São Paulo, a empresa diz que "não é permitido enviar materiais desacompanhados" por aqui. Já a prefeitura informa que a regulamentação do serviço "se destina somente ao serviço de transporte individual de passageiros" e que irá "oficiar a empresa a prestar esclarecimentos".

SAPATOS

Na semana passada, Rogério Barradas, 39, atendeu um pedido na rua Bela Cintra (centro). "Lotei o meu carro de roupas e caixas de sapatos", diz ele, orientado a deixar a mercadoria em uma loja no Shopping Iguatemi. "Fiquei esperando uma hora e meia até buscarem", conta, lamentando o tempo perdido.

Uma preocupação dos motoristas, que reclamam de às vezes terem que estacionar o carro e sair para fazer a entrega, é não saber o que estão transportando. Na primeira vez que aconteceu com Karina Oliveira, 42, ela não abriu a caixa de bolo. "Fiquei com medo de ser outra coisa."

Uma empresa de importação de utensílios de cozinha no bairro de Santa Cecília (centro) usa Uber para fazer entregas ao menos duas vezes por semana, segundo o funcionário Wagner Aranha, 28. Na quarta (14), lançou mão do recurso para levar produtos a Campinas (a 93 km de São Paulo) por cerca de R$ 90.

O dono da empresa, que não quis ser identificado, usa o aplicativo para retirar comida em restaurantes da região. Ele diz que compensa pelo período de espera –para ir a um McDonald's a 1 km da empresa e voltar com o lanche, um motorista leva 15 minutos. Já o delivery prevê uma hora de tempo de espera. A taxa de entrega da lanchonete é de R$ 10, semelhante ao preço do Uber no trajeto.

Seu pedido foi recusado uma vez por um motorista, que também não quis ser identificado. "Disse: amigo, você vai me desculpar, mas faço transporte de pessoas, meu trabalho não é pedir lanche."

A Camargo Alfaiataria, no Jardins (zona oeste), usa Uber para entregar ternos –algo que não poderia fazer com motos, diz um funcionário. Aplicativos de motofrete que funcionam de maneira parecida ao Uber têm preços no mesmo patamar. Presidente do Sindicato dos Motoboys, Gilberto Almeida defende uma regulamentação tanto para esses aplicativos quanto para o uso do Uber para entrega de mercadorias.

Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas de SP, Aldemir Freitas, diz que "o veículo de quatro rodas jamais vai dominar o espaço do motofrete". "O que nos destaca é a agilidade." O consultor de trânsito Luis Antonio Seraphim alerta para um possível aumento de congestionamento na cidade.

Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela Poli-USP, por sua vez, entende que o serviço pode estar apenas substituindo um ritual antes praticado pelos próprios usuários, que faziam as entregas com seus carros. Ou seja, a nova onda não significa necessariamente uma migração de moto para carro, diz.

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