Folha de S. Paulo


Brasília Maria Costa Gois (1960-2016)

Mortes: Morte e vida de Brasília, a afilhada de JK

Assim que os canteiros surgiram na aridez do cerrado, o piauiense de Regeneração decidiu tentar a vida na capital do porvir. Parecia bom presságio. Quando a terceira filha nasceu, o presidente em pessoa se ofereceu para batizá-la. E assim nascia, às 6h15 do dia 21 abril de 1960, Brasília Maria Costa Gois, tendo Juscelino Kubitschek como padrinho.

Primeiro bebê registrado no novo solo da simbologia nacional, Brasília teria no nome um imperativo a ditar seus dias. Ali cresceria, pobre, mas cercada de mimos, pobre ali morreria, na periferia, abandonada pelo Estado e pela sorte –ainda que famosa.

Quando fez 15 anos, ganhou uma festa de debutante. "Fui tratada como rainha", disse. O vestido, o sapato, tudo foi dado pelo governo. Dia 22, ela voltava à pobreza. Foi ao Fantástico, com uma repórter sobrevoou a cidade de helicóptero. Pouco depois, quem era Brasília?

Em 2002, tentou lucrar com a fama. Candidatou-se a deputada. E perdeu. Vivia numa casa sem pintura com o marido e dois filhos. Às vezes, não saía da cama. Como a homônima de concreto, era bipolar, esquizofrênica. Quando deixou o funcionalismo para cuidar da saúde, foi notícia. Cada passo seu estava nos jornais. O trocadilho era fácil. "Brasília nasceu." "Brasília cresceu." "Brasília está deprimida."

No dia da independência, uma Brasília estava em festa. A outra aguardava vaga na UTI. Morreu dia 10, aos 56 anos. O coração parou. No enterro, não havia os políticos de sempre. Apenas os amigos, a família e a imprensa, ali pelo derradeiro título: "Brasília morreu."

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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