Folha de S. Paulo


Vágner Aparecido Nunes (1959 - 2016)

Mortes: Mazolinha, o esquecido herói do Botafogo

Divulgação/Botafogo
Mazolinha
Mazolinha, à esquerda, durante jogo contra o Fluminense

Quando a TV quis contar a história dos "coadjuvantes de luxo" do futebol, homens de raça que brilharam por instantes sob os holofotes da decisão para então apagar-se diluídos no cotidiano, pensou em Mazolinha. Na memória do público, ele durou o tempo de um passe. Obra do destino, e não só do talento, Vágner Aparecido foi construído e desconstruído pelo capricho do jogo.

No 21 de junho, a torcida explodia no Maracanã. A final era contra o Flamengo de Zico. Foi de Mazolinha a jogada que alçou o Botafogo, após 21 anos, ao título de campeão carioca de 1989. Aos 12 do segundo tempo veio o passe de Luisinho: ele lançou na área e Maurício cravou –gol! E daí para o hall da fama de poucos dias. Com o prêmio, comprou um Passat Pointer. E foi isso.

Divulgação/Botafogo
Mazolinha
Vagner Aparecido, após deixar o Botafogo

O rapaz "de coração puro", nascido em Santa Bárbara d'Oeste (SP), acabou de volta às origens. "Não sou parado na rua", lamentava, pá de pedreiro na mão, enquanto alisava a parede. Na TV, contava como dias após o grande passe foi cedido ao Avaí. A partir daí, Mazolinha, obra erguida em bases frágeis, passou a desconstruir-se.

Abriu uma confecção, faliu no Plano Collor, separou-se. Foi sacoleiro, carpinteiro, caiu no álcool, até casar-se e retomar a profissão. A história era a de alguém que poderia ter sido e não foi.

Infartou aos 57 no dia 5. Deixa três filhos e lembrança do dia em que foi jogado para o alto como herói, ainda que para logo cair no esquecimento. Sorrindo amarelo para a câmera, Mazolinha desabafou: "Se eu tivesse feito o gol..."

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missas


Endereço da página:

Links no texto: