Folha de S. Paulo


Primeira campanha de vacina contra dengue tem baixa adesão no Paraná

A três dias do encerramento da primeira campanha pública de vacinação contra a dengue no Brasil, a baixa adesão preocupa a secretaria da Saúde do Paraná.

Apenas 17% da meta foi cumprida até agora, segundo o governo estadual. O Paraná comprou 500 mil doses da vacina, recém-aprovada pela Anvisa, a um custo de R$ 50 milhões —e somente 87 mil foram aplicadas.

A expectativa era que pelo menos 80% delas fossem distribuídas.

Para o diretor de imunização do Paraná, João Luis Crivellaro, a faixa etária do público-alvo (de 15 a 27 anos), além da desconfiança em relação à nova vacina, são os principais fatores que explicam a baixa adesão.

Campanha de vacinação no Paraná

"Esse público não frequenta a unidade de saúde, não busca o serviço. São jovens que trabalham, estudam. E nunca acham que vão pegar algum tipo de doença", afirmou à Folha.

O fato de o inverno ser a "baixa temporada" do mosquito Aedes aegypti, com poucos casos da doença, também dificulta a adesão à campanha. O maior número de ocorrências ocorre no verão.

"Se a população não for vacinada, corremos o risco de enfrentarmos uma séria epidemia a partir de dezembro, ainda pior do que a epidemia deste ano", afirmou o diretor-geral da secretaria da Saúde do Paraná, Sezifredo Paz.

Na última temporada, o Paraná registrou 61 mortes por dengue.

DESINFORMAÇÃO

Boatos e desinformação sobre a vacina também têm sido relatados em alguns municípios.

"É medo. Escutam um boato e não querem tomar", diz o pintor industrial Wallace Domingues, 35, morador de Paranaguá e o primeiro vacinado contra a doença no Estado. "Umas 200 pessoas vêm me perguntar, todo dia: 'Ah, se eu tomar, vou ficar com dengue?'. Não tem lógica", conta Domingues.

A vacina contra a dengue trabalha com o vírus inativado. A eficácia da aplicação é de 66% após três doses, para os quatro sorotipos da doença -considerada baixa por alguns imunologistas, mas suficiente para gerar bons resultados em regiões endêmicas, segundo o governo.

Alvin Baez - 06.mar.2016/Reuters
Mosquitos _Aedes aegypti_, transmissor da dengue e de outras doenças
Mosquitos Aedes aegypti, transmissores da dengue e de outras doenças

De acordo com a secretaria da Saúde do Paraná, nenhuma reação moderada ou grave à vacina foi registrada entre os mais de 80 mil pacientes imunizados –e apenas 0,03% deles tiveram reações leves, como dores musculares ou febre moderada.

"Não há risco de se contrair dengue. A vacina se mostrou muito segura", diz Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Para ela, o tempo e o reforço na comunicação podem ajudar a aumentar a taxa de adesão.

ESTRATÉGIAS

O governo do Paraná encerra a campanha neste sábado (3). Na próxima semana, fará uma reunião para reavaliar as estratégias de comunicação e de vacinação.

O uso mais intensivo de redes sociais, como WhatsApp e Facebook, já é considerado como uma importante estratégia para aumentar a adesão da população.

No último mês, equipes de vacinação foram a mercados, lojas e empresas para tentar ampliar o alcance da vacinação, e estenderam o horário de funcionamento de postos de saúde.

Até mesmo a atleta de vôlei de praia, Ágatha Rippel, medalhista de prata na Olimpíada, foi vacinada em sua cidade natal, Paranaguá, e convocou a população para repetir o gesto.

As vacinas remanescentes, que vencem apenas no final de 2017, podem ser aplicadas nas próximas campanhas. O governo também avalia estender a campanha atual.

Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti


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