Folha de S. Paulo


Após morte de 10 mil peixes, MS planeja pôr 12 mil em novo aquário

Moises Silva/Secom
Obras do Aquário do Pantanal, em Campo Grande (MS), que já custou R$ 170 milhões e não têm prazo de conclusão
Aquário do Pantanal, em Campo Grande, que custará R$ 267 milhões

Um ano após a morte de 10 mil peixes em tanques improvisados na quarentena da obra do Aquário do Pantanal, em Campo Grande, o governo de Mato Grosso do Sul deverá comprar ou capturar ao menos 5.000 novos exemplares.

Eles se somarão aos cerca de 7.000 peixes de espécies do Pantanal, Amazônia, Oceania, África e Europa em quarentena que ainda aguardam a conclusão da obra, projetada para ter sido concluída em 2014.

Conforme a Folha publicou no ano passado, a obra, anunciada como o "maior aquário de água doce do mundo", era uma das vitrines do ex-governador André Puccinelli (2007-2014), do PMDB, e deveria ter sido concluída no último ano de sua gestão.

Dos 12.500 peixes, cerca de 10 mil morreram, sendo 80% pela queda de temperatura à noite, 10% no transporte e outros 10% por doença. A obra, ainda sem prazo para terminar, custará, ao fim, R$ 267 milhões. O valor é mais do que o triplo do orçamento inicial, de R$ 84 milhões.

Os novos animais irão complementar o número mínimo que o governo deve apresentar no aquário ao entregá-lo ao Grupo Cataratas do Iguaçu, empresa que venceu a licitação para gerir a obra.

"A previsão existe, há até a lista das espécies. Alguns serão comprados e outros capturados da natureza, mas ainda não definimos como isso será feito", diz Vander Jesus, gerente de recursos pesqueiros e fauna do Imasul (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).

Para o ictiólogo Fernando Rogério de Carvalho, docente da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), será preciso adquirir ainda mais exemplares para que a proposta do aquário funcione. "Cabe, pelo menos, o dobro [de peixes], tranquilamente".

Boa parte das espécies pantaneiras, diz, são de animais pequenos, que ficariam praticamente invisíveis em um aquário grande se estiverem em poucos exemplares. "O lambari olho-de-fogo, por exemplo, varia de 3 a 5 cm. Para serem visíveis, teria que ser um cardume de uns cem deles, no mínimo."

QUARENTENA

Prevista para ser temporária, a quarentena hoje custa R$ 50 mil por mês ao Estado. Após encerrar o contrato com a Anambi, empresa responsável à época da morte dos espécimes na quarentena, o Imasul assumiu o local, onde ainda restavam em torno de 5.000 animais.

Procurada, a Anambi não se manifestou. Em entrevistas anteriores, disse que as mortes decorreram, principalmente, da falta de verba que deveria ter sido liberada pelo Estado para comprar equipamentos para aquecer os tanques.

Para a quarentena, biólogos, veterinários e zootecnistas foram designados para estabilizar as condições da água, alimentação, e limpeza e temperatura dos tanques.

Ainda assim, desde julho de 2015, morreram pouco mais de mil peixes por causas naturais, fungos, bactérias e parasitas. O número é considerado "até abaixo do esperado" pelo governo.

Segundo o biólogo Ricardo Rech, do Imasul, pelo menos 16 espécies conseguiram se reproduzir no cativeiro —foram 2.106 nascimentos.


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