Folha de S. Paulo


Giuseppe Baccaro (1930 - 2016)

Mortes: Cansou de ver a arte se distanciar dos pobres

As levas de retirantes que via saindo do Nordeste motivaram Giuseppe Baccaro a fazer o trajeto oposto: deixar os leilões de arte em São Paulo, onde viveu por 15 anos, e trabalhar em projetos sociais em Olinda (PE), em 1970.

Grande nome no comércio de arte do país, o italiano, que chegou ao Brasil em 1955, dizia-se cansado de ver quadros indo parar na casa de burgueses e a pintura se distanciando cada vez mais dos pobres.

Em Olinda, abriu a Casa das Crianças, que por mais de três décadas ajudou a população carente com oficinas e cursos profissionalizantes.

Lutou contra a construção do porto de Suape, no Recife, nos anos 1970, por temer danos ao meio-ambiente. Foi na mesma época que deixou de comer carne. Voltava a vender parte de seu acervo de quadros quando precisava de dinheiro para seus projetos.

Não era raro convidar moradores de rua e índios para dormirem e comerem em casa, lembram os familiares. A Casa das Crianças deixou de funcionar nos anos 2000 e moradores de uma favela próxima invadiram o terreno. Ele mesmo ajudou alguns a construírem casas no local.

Os filhos lembram-se de vê-lo sempre atrás de uma pilha de livros e quadros. Ficou mais doce com a família após nascer a primeira neta, Iris, de quem era bem próximo. Casou-se quatro vezes –a última em 2007, aos 77 anos.

O primeiro grande baque na saúde foi em 2008, quando descobriu um câncer na garganta. Nos últimos quatro meses, foi parar na UTI diversas vezes devido a uma infecção no pulmão.

Morreu no dia 14, no Recife, após uma parada respiratória. Deixa a mulher, cinco filhos e cinco netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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