Folha de S. Paulo


Opinião contra

Fetos com microcefalia têm valor e não devem ser abortados

Teremos no Brasil a Paraolimpíada, evento que expressa o respeito da sociedade atual para com as pessoas com deficiência, e o reconhecimento do seu potencial, do valor e o papel fundamental que exercem na sociedade.

Vai na contramão a proposta de aborto em casos em que a criança pode ter deficiência. Em caso de microcefalia, seria um aborto depois do sexto mês, com o bebê totalmente formado, já que o diagnóstico é bastante tardio e incerto. Nas estatísticas dos casos em que há suposição de microcefalia ao nascer, cerca de 70% dos casos acabam não se confirmando.

A probabilidade de uma mãe com zika ter um filho com microcefalia é ainda menor. Pesquisa científica realizada na Polinésia Francesa e publicada em março na revista "The Lancet" mostrou que apenas 1% das crianças nascidas de grávidas com zika tiveram microcefalia.

No caso do pedido que será apresentado ao STF, em que basta a mulher ter tido zika para fazer o aborto, será que o nascimento de um filho "inválido" é um drama tão grande que deva levar ao sacrifício, inclusive, de uma maioria de crianças sem qualquer deficiência?

Se a simples possibilidade é motivo, seria lógico incluir demais deficiências, como a síndrome de Down e as malformações apresentadas por muitos dos nossos atletas paraolímpicos. O filho eliminado não é inexistente, uma gravidez "cancelada". O aborto tira a criança do útero de sua mãe, mas não a tira da sua mente e nem do coração.

Neste caso, a mãe terá para sempre a dúvida sobre as reais condições de seu filho. Mesmo em caso de se confirmar a microcefalia, não se trata de uma criança "inválida", mas de um bebê com deficiência, valor e dignidade, que merece o nosso respeito e amor.

LENISE GARCIA é bióloga e professora da UnB.

Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

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OPINIÃO A FAVOR

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