Folha de S. Paulo


AUGUSTO CÉSAR LACERDA (1949-2016)

Mortes: Pai Augusto, o babalorixá das celebridades

Na vida de pai Augusto nada era ordinário. O arco e a flecha de Oxóssi teriam de ser cobertos pelo ouro de Oxum antes de ser entregues ao filho nobre, e num ritual opulento de danças e oferendas –no candomblé, é do faceiro guerreiro das matas e da rainha da beleza e da riqueza que nasceu Logun Edé, o santo do babalorixá das celebridades.

Filho de uma católica fervorosa e um diretor de presídio, Augusto César Lacerda, foi coroinha e cursou direito. Mas a África da Salvador natal já povoava seu imaginário. Formado em belas artes, pintou telas, expôs e fez dinheiro. Até a aquarela transmutar suas linhas e cores em orixás e o chamado ganhar voz. Ao telefone, Mãe Menininha, a famosa ialorixá da letra de Caymmi, trazia o recado, não dela, mas do próprio orixá: que viesse ao terreiro do Gantois. "Foi ele entrar e o santo baixar", conta a prima Vera.

Era Logun Edé, "menino bonito e corajoso como Jesus, mas cheio de luxo e vontade", define a irmã, Maria. "Como ele." Quando ergueu seu terreiro Ilê Omorodé, trouxe árvores da Nigéria. Dançarino, apresentou-se em Paris –"fez vários trabalhos no Sena", vela e folha de bananeira à mão. Seu aniversário tinha missa, batucada e black-tie. "Festas glamorosíssimas", diz a irmã. "Vinha até diretor da Globo."

Os búzios, que jogava como ninguém, aprendeu com o melhor, Pai Agenor. Não à toa, ganhou um espaço no Rio: todo ano, quando abria os trabalhos na filial improvisada, socialites, políticos e cantores estavam à espera. Os nomes, levou consigo ao morrer de AVC, dia 6, aos 68. Deixa um filho, três netos e órfãos seus mais de 200 filhos de santo.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missas


Endereço da página:

Links no texto: