Folha de S. Paulo


Lucro da Sabesp dobra com fim do bônus e maior consumo de água

O lucro da Sabesp (empresa paulista de saneamento) mais que dobrou no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2015. Segundo relatório financeiro divulgado nesta sexta (12), o bom resultado para a empresa é uma combinação de três fatores: reajustes tarifários para os clientes, fim do bônus para quem economiza e aumento do consumo de água da população.

De janeiro a julho de 2015, em meio à crise hídrica, a Sabesp registrou um lucro líquido de R$ 655,5 milhões. Um ano depois, o valor acumulado no período foi de R$ 1,4 bilhões, um aumento de 117%. Nos últimos três meses, a receita da empresa subiu 21,8% em comparação com 2015.

Só o fim do bônus nas contas de água, em abril deste ano, já representou uma economia de R$ 197,4 milhões aos cofres da Sabesp, empresa de saneamento da gestão Geraldo Alckmin (PSDB). O programa de incentivo para reduzir o consumo foi criado em fevereiro de 2014 e ajudou a poupar quase 100 bilhões de litros de água durante aquele ano.

Em janeiro de 2015, quando a falta de água na periferia da Grande São Paulo chegava a 20 horas por dia, a empresa implementou um sistema de sobretaxa para inibir "gastões" –moradores com consumo elevado, na época cerca de 22% da população, segundo o governo do Estado.

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ECONOMIA E PREJUÍZO

Apesar de as medidas ajudarem a contornar a crise, tiveram como efeito colateral a redução nos lucros da empresa. Em 2014, os ganhos da Sabesp caíram pela metade.

No segundo trimestre de 2015, pela primeira vez durante a crise hídrica, a empresa de saneamento fechou o caixa no vermelho, com um prejuízo de R$ 580 milhões.

Com o fim da crise, decretada pelo governador Geraldo Alckmin em março deste ano, e o fim da sobretaxa, em abril, a Sabesp aumentou o volume de água distribuído, a população deixou de economizar e a quantidade de "gastões" voltou a crescer.

Atualmente, o consumo de água na Grande São Paulo é de 58,9 mil litros por segundo, menos do que no início da crise (67,4 mil litros por segundo), porém mais do que no auge da economia, quando o consumo chegou a ser reduzido em 26%, alcançando 49,9 mil litros por segundo.

De acordo com o balanço divulgado pela empresa, no último trimestre o volume de água distribuído aumentou 4,7% em relação a 2015.

Embora a situação atual dos reservatórios esteja melhor do que no último ano, ela ainda não é considerada confortável. O Cantareira, maior reservatório de abastecimento da Grande SP, por exemplo, tinha 58,5% da capacidade nos últimos dias, incluída a cota do volume morto. Bem mais que os 13,9% de um ano atrás, mas ainda aquém da média de 71% antes da crise nessa época do ano.

Para especialistas, apesar de ter acelerado obras para aumentar a oferta de água, São Paulo deixou de aproveitar a crise hídrica para promover algumas mudanças estruturais na gestão da água e saneamento –de forma a não depender tanto das variações climáticas. Como parte da lição de casa ainda pendente, eles citam investimento em reaproveitamento do esgoto, redução de perdas nas tubulações e mudança duradoura do padrão de consumo de água.

REAJUSTES

Além de gastar mais água, a população está pagando mais por isso. Em maio, a conta foi reajustada em 8,4%.

Antes, a tarifa já tinha sofrido dois aumentos. O primeiro, de 6,5%, foi feito em dezembro de 2014, pouco mais de um mês após a reeleição de Alckmin para o governo de São Paulo e em meio à seca.

O segundo aumento, o maior deles, de 15,2%, aconteceu em junho de 2015, por causa do agravamento da crise hídrica, já com a intenção de remediar a situação financeira da Sabesp.

Rubens Fernando Alencar e Pilker/Folhapress


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