Folha de S. Paulo


Após operação policial, tráfico volta à cracolândia no centro de SP

O tráfico e o consumo de drogas continuam a todo vapor na cracolândia (região central de São Paulo), mesmo após operação policial na sexta (5) que terminou com a prisão de 37 suspeitos de vender entorpecentes. Nesta segunda (9), usuários fumavam crack livremente e formavam um "fluxo" de mesmo tamanho da semana passada.

A ação, com participação de mais de 500 policiais civis e militares da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), teve dois focos, um na cracolândia e outro no hotel desativado Cine Marrocos, hoje ocupado por moradores sem-teto.

Entre os detidos estavam líderes do MSTS (Movimento Sem Teto de São Paulo), que gerenciavam a ocupação e eram suspeitos de usar o edifício como base para traficar na região, sob ordens da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Três dias depois da operação, nada mudou nas alamedas Dino Bueno e Helvétia e no largo Coração de Jesus, o "epicentro" da cracolândia. Usuários consumiram crack durante todo o dia, e era possível ver a distribuição das pedras entre os dependentes, sem ação policial.

"No sábado à noite mesmo fomos conversar com eles [usuários] e estava tudo como antes", afirma o missionário Tiago Nogueira, 34, que faz parte de um projeto de combate ao crack.

Quem trabalha por ali também não viu diferença. "Não mudou nada. Continua aquele mau cheiro de sempre e eles seguem fumando", diz o atendente Jefferson Ferreira, 19.

Guardas-civis, da gestão Fernando Haddad (PT), e agentes de saúde dos governos estadual e municipal também são unânimes. "Só aumentou a abordagem, porque o uso continua o mesmo", conta o segurança Edvaldo Ferreira Queregatte, 36.

OUTRO LADO

A Secretaria da Segurança Pública de SP diz que as polícias continuam realizando "ações na região para sufocar o tráfico e apoiar as ações de saúde e assistência social" —município e Estado desenvolvem na cracolândia os programas Braços Abertos (com oferta de emprego) e Recomeço (com tratamentos contra dependência), respectivamente.

Segundo a pasta, o patrulhamento e investigação são ininterruptos e foram responsáveis por 140 flagrantes de tráfico no ano. Já a prefeitura citou benefícios do Braços Abertos na região, como moradia, trabalho e tratamento médico. Na sexta, Haddad afirmou que desconhecia a ação da polícia.

REINTEGRAÇÃO

A reintegração de posse da ocupação no Cine Marrocos ainda não tem nada para ocorrer. Nos prédio vivem cerca de 600 pessoas, boa parte de estrangeiros.

"Somos pacíficos e não queremos entrar em confronto com ninguém. Mas, até sair a data da reintegração, ninguém vai deixar o prédio. Não temos para onde ir", diz o coordenador que continua no local, José Edmilson Lins, 21.

Segundo ele, agentes da prefeitura já passaram cadastrando os sem-teto. O gestão diz que está negociando com os moradores e que a reintegração está autorizada pela Justiça, mas foi suspensa.


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