Folha de S. Paulo


Casa modernista do 'pai' do Conjunto Nacional está à venda por R$ 3,6 mi

Uma rara casa modernista no Pacaembu, bairro de classe alta no centro de São Paulo, que não virou museu nem passou por reformas mutiladoras, está à venda e já atrai visitantes que nem têm os R$ 3,6 milhões pedidos.

Foi construída pelo arquiteto David Libeskind, que morreu em 2014 aos 85 anos, e que morou ali por mais de 50 anos. Nascido no Paraná e criado em Belo Horizonte, ele não ficou tão conhecido quanto sua obra-prima, o Conjunto Nacional, na avenida Paulista, que projetou quando tinha 25 anos, em 1954, um marco paulistano.

A casa, que ficou pronta em 1961, comprova seus muitos talentos.

Contrariando a fama de que o modernismo produziu caixotões de concreto um tanto frios, Libeskind usou materiais diversos -de paredes de pedra a treliças de madeira e elementos vazados, que marcam a transição entre ambientes-, e muitas cores na construção.

A marcenaria da casa foi trabalhada pelo seu amigo e colaborador Joaquim Tenreiro, um dos maiores designers brasileiros.

A porta de entrada da residência é decorada com pirâmides de madeira; o material também está presente na escada do hall, com guarda-corpo curvo de ripas.

PÁSSAROS

De fora, a residência de 570 m² até parece pequena. Instalada em um terreno íngreme, com desnível de 10 metros entre a entrada na rua Atibaia e a outra ponta, que dá para a rua Traipu, ele desenvolveu vários níveis com terraços e jardins, que se revelam aos poucos -em um deles havia um viveiro de pássaros, hoje apenas um recanto sob árvores.

A meio nível acima da entrada ficam os três dormitórios e o escritório do arquiteto, com vista para a sala, protegido apenas por painéis de madeira. A meio nível abaixo da entrada, ficam a sala com lareira e a piscina com churrasqueira.

Um nível abaixo, na parte mais baixa do terreno, Libeskind instalou seu ateliê de trabalho em um salão com cerâmica azul, de onde via os dois filhos jogarem bola em uma espécie de praça aberta no fundo do terreno.

APRENDIZ DE GUIGNARD

Cores não faltam. A piscina tem azulejos com estampas geométricas -Libeskind também era ilustrador e artista plástico.

Na adolescência, antes de estudar arquitetura, foi aprendiz no ateliê do fluminense radicado em Minas Alberto da Veiga Guignard (1896-1962).

A grande área de serviço, um nível abaixo da entrada, com lavanderia, quartos e banheiro de empregados, tem caquinhos verdes e brancos; no jardim, painéis azuis de acrílico; o marrom avermelhado da madeira e o cinza das pedras dominam tanto a entrada quanto a sala.

"A casa não envelheceu, continua moderna, e tem muitos detalhes de outros residenciais que Libeskind projetou", diz Felipe Grifoni, da imobiliária Refúgios Urbanos, especializada em obras com interesse arquitetônico, e que mantém o site "Casas de São Paulo".

Libeskind não repetiria o sucesso do Conjunto Nacional. Lançaria vários prédios residenciais como arquiteto e construtor em sociedade com o engenheiro Simão Schaimberg, além de um centro médico na rua Itacolomi, em Higienópolis, região central de São Paulo.

Nos anos 60, projetou o que seria seu segundo "Conjunto Nacional", outro complexo multiuso com galerias, escritórios e hotel, bem aberto à rua, no terreno onde ficava o Colégio Des Oiseaux, hoje chamado de parque Augusta, nunca construído.

Uma década depois, sugeriu uma arena para a praça Princesa Isabel, no centro da cidade, que se chamaria Auditório Rino Levi, mas a ideia foi engavetada pela prefeitura paulistana.

VÍDEO EM 360º

Veja abaixo um vídeo em 360º com um passeio pela casa construída por David Libeskind. Arraste com o mouse para girar a imagem.

Vídeo em 360º da casa de Libeskind


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