Como membro da UNE (União Nacional dos Estudantes), Lauro Morhy foi inserido na lista de pessoas subversivas após o golpe militar de 64. Podendo ser preso, decidiu fugir. Passou pelo interior do Amazonas e pela Bolívia.
Nesse período, chegou a ficar em uma tribo indígena. Foi acolhido, aprendeu sobre o modo de vida local, mas acabou saindo rapidamente após o desaparecimento de um índio –o mais alto e bonito. Lauro desconfiou que ele tinha sido comido pelos colegas. "A sorte é que eu era baixinho e feio", brincava ele ao contar a história aos amigos.
Nascido na rondoniense Guajará-Mirim, antes mesmo de existir o Estado de Rondônia, Lauro saiu de casa ainda criança para estudar. Percorreu várias cidades e faculdade, se formou em química e consolidou uma carreira de sucesso como o primeiro cientista a determinar a estrutura primária completa de uma proteína, nos anos 80.
Na época da publicação, já estava na UnB (Universidade de Brasília), onde permaneceu por mais de 30 anos. Além das aulas e pesquisas, foi reitor entre 1997 e 2005, criou o Cespe (Centro de Seleção e de Promoção de Eventos ) e implantou o sistema de cotas e a avaliação seriada.
Às sextas, fazia serestas em seu laboratório. Tocava violão e contava histórias. Também jogava futebol nas horas vagas, embora não fosse muito bom, e lia, lia muito. Deixou uma vasta biblioteca, mesmo após as grandes doações à UnB e à Federal de Rondônia.
Morreu dia 17, aos 75 anos, devido a um câncer. Deixa a mulher, Wilma, sobrinhos e o papagaio Babau, resgatado por Lauro no Amazonas.
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