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'Totalmente família', PM morto em mega-assalto deixa filho de 8 anos

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O policial rodoviário Tarcisio Wilker Gomes quando entrou na PM há 14 anos (à esq.) e uma foto 3x4 atual
O policial rodoviário Tarcisio Wilker Gomes quando entrou na PM há 14 anos (à esq.) e em foto atual

O policial rodoviário Roni Canavez, 37, convidou nos últimos dias os amigos para o seu aniversário, oficialmente nesta terça-feira (5), mas que será celebrado no próximo final de semana. Um deles, seu parceiro enquanto trabalhavam juntos em Ribeirão Preto, não irá comparecer.

O cabo Tarcisio Wilker Gomes, 43, foi morto na manhã desta terça num local distante 11 quilômetros da empresa de segurança Prosegur, na zona norte de Ribeirão, alvo do ataque de uma quadrilha.

Ele e Canavez são da mesma cidade, entraram juntos na polícia e, por um período, trabalharam no mesmo veículo. Só se separaram após Canavez ser promovido a sargento e ser transferido para Jundiaí.

No vídeo é possível ouvir os disparos feitos pelo grupo durante roubo a empresa de valores

"Ele amava o que fazia. Muito honesto, abraçava a profissão com lealdade, construiu uma carreira honrada e enfrentava qualquer trabalho com a mesma seriedade, de atender alguma pessoa na rodovia a ações como a de hoje [ontem]", disse Canavez, com a voz embargada.

Morador do bairro São Carlos, de classe média em Batatais, Gomes era casado e tinha um filho, Lucas, 8, com quem costumava passear nas ruas do bairro nas horas de folga. Também era visto cuidando de sua casa ou fazendo um bico num supermercado da cidade para elevar a renda familiar.

"Era totalmente família, não tinha balada, bagunça, nada disso. Só se dedicava ao trabalho e à família", disse o policial rodoviário aposentado Carlos Adalberto de Oliveira, 57, que trabalhou com Gomes até 2009.

Ele soube da morte do amigo pelo rádio. "Fiquei preocupado ao saber que tinha um policial morto. Além de amigos, como ele, tenho um irmão na polícia. Poderia ser qualquer um, já participei de ocorrências perigosas."

Alfredo Risk
Bandidos explodem empresa de valores em Ribeirão Preto
Bandidos explodem empresa de valores em Ribeirão Preto

Policiais relataram à Folha que ele morreu ao tentar acionar o rádio do veículo para chamar reforço quando um carro com membros da quadrilha se aproximou. Ao menos dez disparos foram efetuados no local, conforme o total de cápsulas encontradas por PMs.

Gomes sempre foi visto por seus amigos como uma pessoa tranquila, educada e solícita, perfil que continuou o mesmo após a entrada na corporação.

Na adolescência, fez Crisma e começou uma amizade fraterna com seu professor, Carlos Laurato, interrompida nesta terça após 28 anos. "Nunca vi maldade nele. Depois da Crisma, ele passou a me ajudar nas missas, cuidando do som e dando o apoio necessário. Não tem como não estar desolado em saber que foi morto", disse Laurato.

O velório foi rápido, mas não menos doloroso para a família –era filho único– e amigos. O corpo chegou ao local após as 14h e o enterro foi no Cemitério da Saudade. A Prefeitura de Batatais decretou luto oficial de três dias.

Roubo em Ribeirão Preto

ELO

O secretário de Estado da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, disse que existe a possibilidade de elo entre a quadrilha que explodiu a empresa de segurança em Ribeirão com os ataques ocorridos em Campinas e Santos.

"Pode ser, não é de se descartar, pode ser. Mas as investigações estão muito no início e é precipitado falar qualquer tipo de coisa, mas pode ser que tenha sim", afirmou ele no velório de Gomes.

Para o secretário, as polícias do Estado são bem equipadas, apesar de as armas dos ladrões serem capazes de perfurar um carro-forte e de derrubar aeronaves.

"Nós temos é que evitar que verdadeiras armas de guerra entrem no país e que caiam na mão de bandidos que venham causar tanto desassossego na sociedade."

Policiais civis e militares ouvidos pela Folha afirmaram que o montante roubado pode chegar a até R$ 60 milhões. A empresa não informou o valor levado pela quadrilha.

O enterro do policial fez a avenida em frente ao velório e o cemitério ser interditada, devido à aglomeração de pessoas. Ao menos 150 policiais participaram do enterro. O filho de Gomes foi amparado por um psicólogo.


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