Folha de S. Paulo


Mãe de garoto estuprado em escola do CE pede punição apenas para o colégio

RESUMO Em 6 de junho, o filho de Maria (nome fictício) foi estuprado por cinco colegas, de idades entre 9 e 13 anos, dentro de uma escola municipal em Fortaleza (CE).

O episódio ocorreu, diz a mãe, no dia seguinte ao aniversário de nove anos do garoto. Ela e o marido, padrasto da criança, foram a quatro delegacias para que a situação fosse investigada. A Secretaria da Educação de Fortaleza abriu sindicância para apurar o caso.

Jarbas Oliveira/FolhaPress
Maria (nome fictício), cujo filho de 9 anos foi estuprado por colegas na escola
Maria (nome fictício), cujo filho de 9 anos foi estuprado por colegas na escola

*

Era uma segunda-feira, e o meu filho, de nove anos, estava subindo para a sala de aula. Foi quando cinco meninos colocaram-no contra a parede num corredor perto da escada. Três o seguraram, enquanto um quarto o imobilizou e tapou a boca dele. Dois tiraram calção do meu filho, curvaram-no e praticaram o estupro. Primeiro um, depois outro. Isso meu filho me contou quando voltou da escola.

Depois que o soltaram, esses meninos o empurraram e xingaram-no, chamando-o de "bicha". Ele vestiu a roupa, subiu para a classe e falou com a professora: "Professora, os meninos 'pimbaram' em mim!". E ela disse: "Você saia da minha sala agora!". Ele pegou as coisas dele, desceu a escada e ficou lá, transtornado. Começou a chorar.

Após ele ficar mais calmo, a coordenadora o encontrou e perguntou por que ele estava na escada. Então, ele relatou o que aconteceu. Ela pediu para que ele fosse à secretaria. E lá ele ficou até o fim da aula. Quando todos saíram, ele saiu também. Foi quando meu marido [padrasto] encontrou meu filho.

Estava transtornado, choroso e o rostinho dele estava vermelho. Meu marido perguntou o que foi aquilo, se ele tinha apanhado de novo. Ele disse: "Não, papai. Os meninos 'pimbaram' em mim".

Quando chegou em casa, meu marido ligou para a coordenadora. "Pelo amor de Deus, o que foi que deixaram fazer com meu filho?".

Ela relatou que já tinha sido informada e pediu que meu marido fosse até lá para conversarem. Ele respondeu que não, que só iria depois de procurar a polícia. Disse: "Não! Chega! Meu filho só volta daí espancado. Pelos colegas, pela professora que não gosta dele... E vocês nunca tomam uma atitude!".

BULLYING

Meu filho sofria bullying na escola. Ficavam chamando-o de "nego preto", de "baleia assassina preta". Também já apanhou. E a escola nunca fez nada.

Depois de passar por três delegacias, chegamos à 34ª DP, e lá tivemos êxito, porque um policial, um anjo de Deus, perguntou se o Conselho Tutelar já estava sabendo desse caso. Respondi que não. Ele me repassou o número e eu telefonei para os conselheiros. Em 20 minutos, eles estavam lá.

Meu marido foi para casa, e eu fiquei na delegacia sendo acompanhada pelas conselheiras. À noite, fomos para o IML, e o meu filho fez exame de corpo de delito.

O médico disse, depois de fazer os exames: "Esses garotos têm que ser expulsos!". Para mim, foi uma confirmação, e eu comecei logo a chorar.

O TRAUMA

Depois do acontecido, meu filho começou a ficar muito triste e agressivo, nervoso, chorando por qualquer coisa. A psiquiatra que o acompanhava precisou aumentar a dosagem da medicação [o garoto tem o diagnóstico de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade].

A médica disse que isso vai continuar por pelo menos dois meses. O Conselho Tutelar está me ajudando muito. Conseguiram uma psicóloga para o meu filho em dois tempos, e ele já passou pela primeira consulta. Até eu e meu marido estamos indo à terapia também, porque estamos muito abalados.

Um dia depois do ataque, veio o pai de um dos garotos que estuprou meu filho. Esse pai -e eu tiro meu chapéu para ele- fez o menino vir aqui e confessar tudo que o fez: como eles pegaram meu filho, como eles o violentaram, quais foram os movimentos que eles fizeram. E fez ele confessar que todas as vezes que o garoto tentava se defender ele apanhava no rosto.

Esse pai dizia: "Você está vendo a situação desta mãe? Você queria ver sua mãe desse jeito? Porque, se você tiver feito também [o garoto teria alegado que segurou e bateu no garoto, mas que não consumou o estupro], eu sou o primeiro a te levar para a delegacia. Se você quer ser vagabundo, vai ser bem longe de mim".

'SÓ MENINOS'

Vou confessar para você, com o meu coração machucado, que não quero que esses meninos sejam presos. Eu quero que a escola seja punida, porque eles não fizeram nada para proteger meu filho. Eles foram irresponsáveis, e isso eu quero denunciar.

Mas esses meninos são apenas crianças. O que eu quero é que as mães desses garotos olhem por eles, vejam com quem eles estão andando, o que que eles estão fazendo. Porque eu me coloco no lugar dessas mães, apesar de a maioria delas não se colocar no meu.


Endereço da página: