Folha de S. Paulo


Ladrões amadores inflam ataques a caixa eletrônico no interior do país

Numa ação, assaltantes praticamente explodiram a agência bancária inteira. Em outra, os explosivos deixaram os caixas eletrônicos intactos. Essas cenas mostram como ladrões "amadores" têm agido e inflado os ataques a caixas em alguns Estados.

Minas Gerais e Pernambuco estão entre os locais com mais ataques no ano. Normalmente os alvos são cidades pequenas, com baixo efetivo policial, praticamente sem vigias privados ou câmeras de vigilância e com muitas rotas de fuga. Para um especialista, a prática lembra o cangaço.

Zanone Fraissat/Folhapress
Caixas eletrônicos explodidos na cidade de Marialva (PR)
Caixas eletrônicos explodidos na cidade de Marialva (PR)

Só em Minas, que teve 45 ações em três meses, ladrões estão usando até pólvora em pernas de mesa para fazer uma espécie de foguete, o que tem gerado ataques frustrados ou exagerados. "Antes, era só dinamite industrial. Hoje fazem caseira. Isso acaba potencializando o poder de explosão, deixando as ações mais graves. Destroem tanto que às vezes não conseguem roubar nada", diz o delegado Ramon Sandoli.

Já em Pernambuco, a polícia destaca a diversidade dos ataques, que vão do uso de explosivos convencionais a maçaricos, arrombamentos, uso de bombas caseiras, furadeiras e até mesmo "pescaria", segundo o delegado Paulo José Berenguer de Barros, da unidade de roubos e furtos.

"Muitos não sabem manejar explosivos. Mas há casos em que partimos da premissa de que o ladrão teve algum tipo de treinamento, até mesmo nas Forças Armadas."

A "pescaria" nos caixas é feita com o uso de fitas adesivas dupla face, chave de fenda e fio dental. Os envelopes depositados nos caixas eletrônicos são retirados de forma semelhante à pesca.

Foram 31 ataques neste ano até maio em Pernambuco -90% deles no interior-, ante 33 no mesmo período de 2015, segundo o delegado.

Apesar de queda, São Paulo teve 59 ataques. Ainda houve casos no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Alagoas, Paraná, Paraíba e Tocantins.

Apesar da participação de amadores, há ações avaliadas pela polícia como praticadas por especialistas. Um exemplo ocorreu em abril, em São Sebastião, no litoral norte paulista, onde uma pessoa foi morta após uma quadrilha explodir caixas e fugir de lancha com o dinheiro.

CANGAÇO

Segundo o especialista em segurança Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, quadrilhas agem como um "novo cangaço", em alusão ao grupo de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que aterrorizou o sertão nordestino até 1938, quando foi morto.

"São ações que fecham a cidade pequena, principalmente no Nordeste e Norte do país, onde às vezes o reforço policial mais próximo está a 200 quilômetros de distância. Usam forte armamento e aterrorizam as pessoas."

Para ele, as ações persistem porque os ladrões perceberam ser mais fácil roubar caixas eletrônicos do que as agências. "O banco tem temporizador do cofre, alarme, segurança, porta giratória."

Em São Paulo, a Secretaria de Estado da Segurança Pública informou que as explosões têm sido combatidas com ações de inteligência e policiamento preventivo, o que fez o total de ataques cair de 106, em 2015, para 59. Entre as medidas estão ações para evitar o extravio de dinamite e mapeamento georreferenciado dos caixas.

A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) diz que os bancos acompanham os ataques com "extrema preocupação".


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