Folha de S. Paulo


PMs forjaram disparo em carro de universitário morto, diz testemunha

Testemunhas afirmaram à Corregedoria da PM e à Polícia Civil que viram policiais militares colocando o revólver calibre 38 no carro usado pelo universitário Julio Cesar Alves Espinoza, 24, morto após perseguição na madrugada da última segunda-feira (27), na Vila Prudente (zona leste).

Moradores da região disseram à polícia que após o jovem ser baleado na cabeça, dois policiais entraram no Gol prata que ele dirigia e forjaram um disparo no para-brisa com a arma, levada por agentes que chegaram depois à cena do crime.

Reprodução/Facebook
Universitário Julio César Alves Espinoza é baleado em perseguição policial em SP
Universitário Julio César Alves Espinoza, baleado durante perseguição policial na zona leste de SP

A informação foi incluída no inquérito que apura o caso, e o revólver, com a numeração visível, ainda era rastreado pela Polícia Civil até a noite desta quarta (29).

Os dez PMs e quatro guardas-civis de São Caetano do Sul (Grande SP) envolvidos no caso disseram que Espinoza atirou contra eles ao fugir em alta velocidade para escapar de abordagem. Familiares dizem que ele voltava de um bico como garçom e fugiu com medo de ter o carro apreendido por dever multas.

No boletim de ocorrência, PMs dizem ter dado oito tiros em direção ao carro. E os guardas-civis, sete. A perícia detectou 16 perfurações na lataria do veículo e pneus -há um disparo no para-brisa, segundo a perícia feito de dentro do Gol para fora.

Quatro PMs que participaram do caso estão afastados. A Corregedoria detectou em avaliação inicial que o relato deles tem falhas, como a falta de precisão ao informar de fato quantos tiros supostamente foram dados por Espinoza durante a perseguição, quais os horários e os locais.

Além disso, será apurada a conduta dos policiais, que informaram ao centro de operações da corporação sobre a troca de tiros somente dez minutos depois do início do suposto tiroteio, quando dois carros da polícia teriam se chocado. Nesse momento, o universitário teria fugido pela contramão na avenida do Estado, na zona leste, enquanto atirava.

Segundo o relatório inicial dos peritos, Espinoza não teria como trocar tiros disparando apenas três vezes. Ele também pode ter sido ferido antes de bater o carro, já que não há marcas de frenagem no chão.

A Prefeitura de São Caetano do Sul também apura a conduta dos guardas-civis.

MÃOS NO VOLANTE

Moradores das ruas por onde passou a perseguição de 6 km que culminou na morte de Espinoza relatam que viram apenas o jovem dirigindo em alta velocidade, sem atirar em direção aos policiais militares.

"Ele estava com o vidro aberto e as duas mãos no volante. Não atirou nenhuma vez. Os policiais mentiram", disse um morador da avenida Presidente Wilson que andava a pé pela via e viu a perseguição.

Morador próximo do local onde o carro de Espinoza parou, um mecânico de 47 anos relata ter ouvido mais de 40 disparos. E que os policiais teriam agredido o universitário, mesmo ferido.

"Ouvimos muitos tiros, muitos mesmo, uns 40. Vi um carro policial com uma policial mulher e um homem. Ela colocou o revólver no teto do Gol e os dois tiraram o cara do carro, jogaram-no no chão e deram chutes e socos nele", disse.

Segundo ele, somente cerca de cinco minutos depois é que outros carros da PM chegaram. Afastaram com ameaças quem tentava acompanhar os trabalhos até a chegada da ambulância.

"Isolaram tudo, não deixaram ninguém se aproximar. Disseram que iriam prender quem filmasse. Xingavam muito", disse uma dona de casa de 39 anos que mora na área.


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