Folha de S. Paulo


Colegas de garoto de 11 anos morto por GCM dizem que não estavam armados

Os dois adolescentes que estavam no carro com um menino de 11 anos morto após perseguição de guardas-civis em Cidade Tiradentes (extremo leste de SP), no sábado (25), disseram à polícia que nenhum deles estava armado naquela noite e que, por isso, não houve confronto.

Segundo policiais ouvidos pela Folha, ambos têm 14 anos. Foram localizados pela Polícia Civil na tarde desta terça (28) e levados para prestar depoimento no DHPP (departamento de homicídios) –responsável pela investigação.

Os investigadores dizem que os garotos já tinham passagens anteriores por furto e roubo. Teriam ficado internados na Fundação Casa recentemente por 40 dias e estavam em liberdade assistida.

Waldik Gabriel Silva Chagas

À polícia, eles admitiram que furtaram o Chevette, ano 1989, junto com Waldik –que seria, dizem os adolescentes, responsável pela abertura do veículo. O menino que morreu teria usado a ponta de uma tesoura para conseguir abrir o carro e fazer a ligação.

Os dois meninos foram encaminhados para a Vara da Infância e Juventude para que a Justiça determine o futuro deles –se voltariam para a Fundação Casa ou se seriam entregues à família. Eles prestaram depoimento ao lado das mães.

COLEGAS

A versão apresentada pelos garotos, de que nenhum deles estava armado, reforçou a avaliação policial sobre a ausência de sinais de confronto. O que mais pesa nessa suspeita é que os próprios colegas do guarda responsável pelo disparo que matou Waldik não confirmaram, em depoimento à Polícia Civil, que tenha havido tiroteio.

Documentos obtidos pela Folha mostram que eles afirmaram ter ouvido estampidos de tiros, mas não podiam dizer que tenham vindo do carro em que estava Waldik. A negativa desses dois guardas foi antecipada pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

Um deles afirmou que estava concentrado em dirigir a viatura e, por isso, não poderia confirmar. Outro disse que não poderia confirmar a existência de tiroteio porque estava no banco de trás e, em razão da alta velocidade, "era jogado de um lado para outro no banco traseiro".

Os dois relatos, de guardas iniciantes na corporação, enfraqueceram a justificativa apresentada pelo outro guarda (que ocupa posto superior ao deles) para ter atirado contra os ocupantes do Chevette que havia sido furtado.

O GCM que atirou disse que fez isso por ter certeza de que ouviu estampidos e clarões saindo do carro em fuga em sua direção. Disse que seus disparos foram na direção dos pneus do Chevette, mas acabou errando um deles.

Disse ainda que está na GCM há mais de 13 anos, que tem uma ficha funcional limpa. "Que jamais teve intenção de acertar, ferir ou matar qualquer dos ocupantes que estava no veículo Chevette e muito menos ferir mortalmente uma criança que nem imaginava que estava no banco traseiro, tendo em vista que o carro tinha película escura em todos os vidros."

A perícia preliminar no veículo também não encontrou indícios de tiros que partiram de dentro do Chevette. Todos esses detalhes levaram a Polícia Civil a decretar a prisão em flagrante do guarda, que pagou uma fiança de R$ 5.000 para responder ao processo em liberdade.


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