Folha de S. Paulo


Padre irlandês faz sucesso no Jardim Ângela, periferia de São Paulo

Stefano Maccarini/Folhapress
O padre irlandês Jaime Crowe, 71, que atua no Jardim Ângela, em São Paulo
O padre irlandês Jaime Crowe, 71, que atua no Jardim Ângela, em São Paulo

Às 8h da manhã de um domingo, dezenas de pessoas se reuniram em frente à paróquia Santos Mártires, no bairro Jardim Ângela, periferia sul de São Paulo.

De cima de um caminhão de som, o padre Jaime Crowe, que comanda a igreja local, deu bom dia a todos os participantes da 11ª marcha Abraço Guarapiranga.

"São Pedro fez um pacto comigo hoje", diz. Havia chovido durante a madrugada anterior, mas alguns minutos antes da corrida a chuva deu uma trégua.

O padre rezou e deu a bênção a todos os presentes na romaria, que iriam percorrer um trajeto de três quilômetros até as proximidades da represa do Guarapiranga.

Há 46 anos no Brasil e 29 no Jardim Ângela, o sacerdote nascido na Irlanda se tornou um dos principais líderes comunitários da região mais identificada pelos paulistanos como periferia, segundo pesquisa do Datafolha.

"A periferia é onde tem exclusão e não há cidadania nem direito à cidade", diz o padre.

Aos 71, ele faz o trajeto caminhando com os demais. Sem batina, de chapéu preto e óculos com lentes transitions, guiou a marcha pelas ruas de asfalto esburacado do bairro.

Ao longo dos anos, ele combateu os mecanismos de exclusão e transformou a paróquia em uma ONG que promove ações que vão do assistencialismo ao empreendedorismo.

Presente na marcha, a designer Érica Campanha, 26, participa do projeto ngela de Cara Limpa, que começou há 18 anos como um programa de coleta de lixo.

"O padre criou um movimento para ter coleta seletiva no bairro, já que a prefeitura não vinha para cá", afirma Campanha. Ela usa um espaço da igreja para desenvolver o projeto de um brinquedo de papelão batizado de Colmeia.

Outro movimento criado por Crowe foi o Fórum em Defesa da Vida, marcha contra a violência que ocorre em novembro. O sacerdote buscou fortalecer a segurança da região por meio do policiamento comunitário e de uma série de atividades sociais para fortalecer os laços da comunidade.

"Quando eu cheguei há 23 anos, dava aula de alfabetização para adultos na Santos Mártires", diz a irmã canadense Agnes Hoy. O problema, relembra a freira, é que os alunos não entendiam muito bem as aulas.

A solução encontrada pelo padre foi convidá-la a ensinar idiomas. "Ele me disse 'esses meninos vão precisar de inglês no futuro' e é o que tenho feito desde então".

No final da romaria, o grupo, com de mais de mil pessoas, se reuniu em um terreno em frente ao Parque Guarapiranga, onde foi erguido um palco.

Em cima do palco, ao lado de outros religiosos, Crowe pediu para que todos repetissem: "O Guarapiranga é nossa responsabilidade" e todos os presentes repetiram.

Para Doni Araújo, 31, que ajudou na organização do evento, Crowe conseguiu humanizar o mito do sacerdote. "É um padre que pisa com a gente", diz. "Pode ser teimoso, mas aqui no Jardim Ângela, se não for teimoso não se chega a lugar algum".


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