Folha de S. Paulo


Pancadão na frente da PUC lota rua de Perdizes e atormenta os vizinhos

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Música no último volume em alto-falantes espalhados pelo quarteirão. Uma multidão que bebe e usa drogas até cerca de 4h. Sujeira que amanhece em ruas e calçadas.

O cenário, que atormenta há meses moradores do bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, pode ser visto na rua Ministro Godói todas as noites de sexta-feira e nas madrugadas de sábado. Tudo isso em frente a uma das entradas da PUC (Pontifícia Universidade Católica).

Os protagonistas da festa a céu aberto, que às vezes também ocorre às quintas-feiras, são os próprios alunos. Mas, devido ao crescimento da balada, gente de outras regiões da cidade também começou a frequentar o local.

"A rua estava cheia de gente, mas eu voltarei outras vezes, porque a festa é muito boa", disse um jovem estreante no pancadão da PUC e que chegou lá após o convite de um amigo ex-aluno.

Conforme a reportagem da Folha presenciou na última sexta (17), o som é o mesmo dos pancadões que ocorrem com frequência nas ruas das periferias, também aos finais de semana. No caso do pancadão da PUC, no entanto, além do tradicional funk, o público se diverte com ritmos como pop, axé e pagode.

EXCITAÇÃO

Com o avançar da noite, assim como o barulho, a excitação dos frequentadores vai crescendo. Na madrugada de sábado (18), uma jovem subiu em um cooler, e todos que estavam ao redor dela passaram a dançar uma coreografia espontânea ao som do eletrofunk "Madagascar", do cantor Edy Lemond. A cena lembrou um "Flash Mob" combinado pelas redes sociais.

Alguns minutos depois e a rua toda virou um coro só ao som de "Não Quero Dinheiro", de Tim Maia.

As bebidas consumidas ali são servidas pelos bares da região. Quando eles encerram o expediente, ambulantes entram com seus carrinhos –alguns deles aceitam diversas bandeiras de cartão de crédito– e fornecem o álcool até o fim da madrugada.

Nesta sexta, um grupo de jovens chegou à rua com um cooler forrado de bebidas. Outros caminham com suas garrafas a tiracolo. Carros de lanche e foodtrucks também estacionaram na área.

RONDA POLICIAL

Durante o período em que a reportagem da Folha esteve no evento, carros da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana fizeram rondas no entorno do trecho bloqueado pelos pedestres, mas nenhum interrompeu a festa.

Vizinhos do local, que moram tanto em apartamentos quanto em casas, estão transtornados. Eles sabem que toda sexta-feira o martírio será, novamente, o mesmo.

A reunião de estudantes da PUC no quarteirão da Ministro Godói ocorre há mais de dois anos, segundo a Folha apurou com pessoas da região. Mas foi nos últimos seis meses que a situação começou a sair do controle.

Em datas especiais, como Carnaval e o mês de junho, quando são organizadas festas juninas no local, a situação piora, dizem moradores.

O som altíssimo que atrapalha o sono, quilos e mais quilos de sujeira e o bloqueio total da rua não são os únicos problemas de quem mora ali. Vizinhos reclamam ainda de pessoas urinando em suas portas e, em alguns casos, fazendo sexo na rua.

Parte dos moradores também sente medo. Houve registro de tentativas de furto e de discussões no local enquanto ocorriam as festas.

Nos últimos meses, um abaixo-assinado com quase 300 nomes foi elaborado e encaminhado para órgãos do Executivo e do Judiciário. Mas, segundo moradores que conversaram com a reportagem, nada foi feito até agora, o que faz com que o número de frequentadores do local só cresça.

De acordo com a lei municipal de São Paulo, carros que emitem som alto pela cidade podem ser multados no valor de R$ 1.000, e as festas na rua só podem ocorrer depois de autorizadas.

Por meio de nota, a Secretaria Estadual da Segurança Pública de São Paulo informa que cabe à prefeitura fiscalizar o som alto em vias públicas. "As polícias priorizam o atendimento de casos de ocorrências de crime", informa o órgão à reportagem.

De acordo com o governo estadual, nas festas na região de Perdizes, "não há o fechamento completo das vias públicas, o que demandaria ação da corporação para a desobstrução das mesmas".

A prefeitura diz que está estudando ações na região para as próximas semanas.

Por meio de nota, a Reitoria da PUC informa que não tem como agir sobre festas fora de suas dependências. Nos últimos anos, segundo a direção da universidade, ocorreram várias tentativas de discutir o problema com os órgãos públicos, que não surtiram efeito. Dentro da PUC, a Reitoria esclarece que não patrocina ou apoia nenhum tipo de festa.


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