Folha de S. Paulo


Joide Miranda (1965-2016)

Mortes: Das dificuldades até a transformação pela fé

Foram muitas as recusas de Joide Miranda aos convites da mãe para acompanhá-la à igreja. A insistência chegava a provocar brigas entre os dois. Um dia, porém, passando de carro na frente do local, ele resolveu fazer uma surpresa. Entrou durante um culto e sentou ao lado dela.

Era assim que Joide descrevia o início de sua transformação. Foram algumas palavras do pastor, os cantos de uma missionária, e ele estava de joelhos no chão, chorando.

Nascido em Cuiabá, Joide teve uma vida conturbada. Um pai violento e um vizinho abusivo o fizeram sair de casa ainda na adolescência.

Conheceu a prostituição e as drogas, mas também o caminho para o Rio, França, Espanha e Grécia.

Foi também nessa época que começou a mudar o próprio corpo. Silicone nos seios, nos quadris, e logo parecia o que dizia ser: uma mulher.

Voltou ao Brasil e, após aquela surpresa à mãe, decidiu desfazer a transformação. Foram seis anos de acompanhamento religioso, psicológico e familiar, além de cirurgias, até Joide, já com 26 anos, se descrever como ex-travesti.

A mudança foi contada por ele mesmo em seu blog, em palestras e em seus cultos na Igreja Batista Nacional Peniel.

Enfrentou desconfiança, crítica e ameaça, mas nunca parou de contar sua história. Mantinha a alegria, a tranquilidade, as palavras positivas.

"Ele nunca foi contra quem está homossexual. Joide achava que eles precisam ser amados, acolhidos na igreja", afirma a mulher, Edna.

Morreu dia 12, aos 51 anos, após uma parada cardíaca. Deixa mulher, filho, mãe, três irmãs, sobrinhos e amigos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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