Folha de S. Paulo


Em meio às ondas de frio, Sul do país registra ao menos 12 mortes

Divulgação
Barracas térmicas instaladas em ginásio de Lages (SC) para receber moradores de rua

Em meio às ondas de frio deste outono, pelo menos 12 pessoas morreram nos três Estados do Sul do país desde o final de abril, segundo levantamento da Folha feito junto a prefeituras e grupos que atendem moradores de rua. Foram seis no RS, cinco no PR e uma em SC.

As mortes mais recentes foram registradas em Caxias do Sul e em Curitiba, na última segunda-feira (13). A situação só não é pior porque algumas prefeituras adotaram medidas especiais, como as cidades catarinenses de Lages e Itapema, que instalaram neste ano barracas térmicas em ginásios.

Nove das 12 mortes foram registradas com pessoas que vivem nas ruas das cidades. Foi o caso, por exemplo, de um homem achado morto por suspeita de hipotermia em Passo Fundo (RS) no final de abril.

O frio que atinge a região em pleno outono é o pior dos últimos anos. No Paraná, os termômetros de General Carneiro marcaram -7,1º C, a menor temperatura registrada em junho desde 2012. Já em Santa Catarina, Urupema teve -8,5º C, segundo o órgão estadual Epagri/Ciram.

Não há dados oficiais de mortes registradas em ondas de frio. Por isso a Folha falou com órgãos das prefeituras e grupos que atendem moradores de rua.

Segundo especialistas do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, apesar de as mortes estarem associadas à baixas temperaturas, não ocorrem por causa delas. O problema se agrava quando o frio é aliado à má alimentação e condições precárias de vida –como pressão alta, por exemplo.

Segundo a assistente social Veridiana Farias Machado, do Consultório de Rua, em Porto Alegre e Canoas, as mortes do frio são casos sistemáticos e que se repetem todos os anos. "As prefeituras deixam muito aquém as estratégias para lidar com isso. Em Canoas, pessoas que não são daqui, só podem ficar três dias no albergue", disse ela.

O psicólogo Gabriel Amado, que trabalha com a ASA (Ação Social Arquidiocesana) em Santa Catarina, fala em "precariedade" de algumas cidades. "Há lugares onde nem há albergues", diz ele.

Os grupos que atendem moradores de rua também reclamam que as ações higienistas não param nem durante o inverno. É comum ouvir relatos de pessoas em situação de rua, dizem eles, que tiveram seus pertences tomados por quem faz a limpeza da cidade.

EXEMPLOS POSITIVOS

A Prefeituras de Itapema instalou as barracas térmicas em ginásios no domingo (12), por causa da morte registrada no Balneário Camboriú, na quinta (9). Como Lages, o município também distribui colchões e alimentos nos locais.

A saída na maioria dos municípios tem sido remediar a situação com ampliação no número de vagas em espaços de acolhimento. Porto Alegre anunciou abertura de 90 vagas extras até setembro.

Em Curitiba, após várias iniciativas, a cidade diminuiu o número de mortes. Chegou a registrar até sete mortes por ano, mas ficou três anos sem registros do tipo. Teve uma agora na segunda, quando uma mulher de 45 anos foi encontrada morta no quintal da própria casa, com suspeita de hipotermia.

Além da ampliação de vagas, a prefeitura passou a realizar abordagens diretas nas ruas, para convencer a população a buscar acolhimento, segundo Márcia Fruet, presidente da Fundação de Assistência Social de Curitiba.

O município conta ainda com ajuda de voluntários. "Este ano recebemos 600 inscrições no site de pessoas interessadas em participar das abordagens."

MORTES EM MEIO ÀS ONDAS DE FRIO

Paraná: um morador de rua em Pinhais, em 27/abr; um homem achado numa construção e um casal na rua, em Cascavel, em 28/abr; uma mulher de 45 anos foi encontrada morta no quintal da própria casa, em Curitiba, em 13/jun;

Santa Catarina: um homem encontrado na calçada da avenida Atlântica, em Balneário Camboriú, em 9/jun;

Rio Grande do Sul: um morador de rua em Passo Fundo, em 26/abr; outro morador de rua em Esteio, em 29/abr; dois homens em Bagé, em 29/abr; um homem em Passo Fundo, em 11/jun; um homem, que trabalhava como zelador, foi encontrado dentro de um contêiner em uma construção, em Caxias do Sul, em 13/jun


Endereço da página:

Links no texto: