Folha de S. Paulo


Política formal e a nova militância estão desconectadas, diz ativista

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Os protestos de junho de 2013 são um marco político, mas o movimento se enfraqueceu com o tempo e perdeu a capacidade de reativar a mobilização. Deve-se fazer política todos os dias, mas também é preciso encontrar soluções de tecnologias sociais para melhorar a articulação dos movimentos jovens.

Esses foram alguns dos diagnósticos apontados pela fundadora da organização de mobilização social Meu Rio, Alessandra Orofino, no painel que abordou a voz do jovem dentro do seminário internacional Cidades e Territórios: Encontros e Fronteiras na Busca da Equidade. O evento, realizado nesta terça-feira (14), foi promovido pela Folha em parceria com a Fundação Tide Setubal.

"A insurgência tem dificuldades reais de pautar a política pública. O que restou do movimento de 2013 foram os estudantes secundaristas", disse Orofino. Ela acredita que o movimento inicial foi cooptado de maneira negativa pela classe política.

Para a economista, um exemplo de movimentação seguido de decepção foi a campanha para o primeiro mandato do presidente americano, Barack Obama. Na ocasião, houve uma grande mobilização jovem em torno do candidato mas uma frustração depois que ele foi eleito.

"Há uma desconexão entre o sistema formal da política e a nova militância. Aquela militância ajudou a colocá-lo na Casa Branca, mas não seguiu pressionando", disse.

Na opinião da pesquisadora e socióloga Beatriz Pedreira, 2013 também se tornou um marco simbólico de uma geração e mudou a maneira dos jovens se mobilizarem.

"O jovem não se aproxima dos partidos porque sente que não há diálogo. Ele procura novas formas de organização, que são em rede, descentralizadas e com múltiplas lideranças, bem diferente da estrutura partidária", afirmou Pedreira.

Em uma pesquisa sobre as manifestações, ela identificou que 39% dos jovens se consideram alheios à política. O restante foi dividido em diferentes categorias. O grupo mais ativo, com 16%, era formado por dois tipos de pessoas, cada um com 8%. O primeiro são pessoas ligadas a estruturas tradicionais como ONGs e igrejas.

O segundo foi classificado como os "hackers da política", que buscam brechas para transformar o sistema por dentro. Eles possuem causas avulsas e não "compram'" um pacote ideológico.

TECNOLOGIA E CONFUSÃO

Para o jornalista e fundador do Instituto Escola da Notícia, Tony Marlon, nunca houve tanta tecnologia disponível, mas as pessoas estão confusas sobre o que com fazer com ela.

Quanto aos movimentos de 2013, ele disse que as instituições ficaram sem saber como agir por causa da ausência clara de lideranças.

"Ninguém sabia quem estava mandando naquela galera. As autoridades se perguntavam 'se não tem um rosto, com quem que eu tenho que negociar?'", afirmou.

Por fim, Marlon lembrou que o jovem e a periferia são múltiplos e que é preciso criar espaços de divergência para que haja alguma convergência. "É preciso colocar os devidos plurais", disse.

"Existe uma São Paulo inteira acontecendo em vários cantos e a própria cidade não sabe disso. É um movimento que passa pela juventude."


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