Folha de S. Paulo


'Enormes construções' ameaçam a dinâmica das cidades, diz socióloga

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Os megaempreendimentos multinacionais que estão ocupando os grandes centros urbanos ameaçam uma das capacidades mais importantes das cidades, na opinião da socióloga holandesa Saskia Sassen : permitir que as pessoas, mesmo as sem poder social, possam fazer sua história, criar sua cultura e sua forma de fazer parte da economia.

Sassen fez a conferência de abertura do seminário internacional Cidades e Territórios: Encontros e Fronteiras na Busca da Equidade, na manhã desta terça (14), realizado por meio de uma parceria entre a Folha e a fundação Tide Setubal.

Professora da Universidade de Columbia (EUA) e referência mundial no tema da globalização e das migrações urbanas, Sassen falou sobre as novas configurações metropolitanas e a importância do território para as políticas públicas urbanas.

"As enormes construções privadas não são a cidade, mas são formas de os grandes investidores controlarem o espaço urbano", disse Sassen.

A professora afirmou que a compra de propriedades urbanas por grandes investidores, muitas vezes estrangeiros, está fazendo bairros modestos tornarem-se parte das finanças globais.

"Grandes investidores estão comprando terrenos e prédios e criando uma nova história urbana. Se os bombeiros, enfermeiros, professores de uma cidade têm que viver muito longe do centro ou do local de trabalho, temos um problema", disse Sassen.

Além de empurrarem a população para as fronteiras das cidades, os megaempreendimentos tampouco dão espaço para a própria cidade se apropriar deles.

"Em um shopping center ou um enorme prédio de escritórios, não há o indeterminado que caracteriza uma cidade, não há ruas e praças para as pessoas conviverem e consideram como suas."

Após a conferência, o jornalista da Folha Raul Juste Lores mediou o debate com o público, que perguntou sobre formas de interferir nessa ocupação do espaço público.

Sassen respondeu às perguntas do público em espanhol. Para ela, projetos que aproximem pesquisadores ou responsáveis por obras públicas das pessoas de cada bairro são um caminho para interferir na ocupação da cidade pelo poder financeiro.


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