Folha de S. Paulo


Polícia encontra casa onde esteve adolescente que foi estuprada no Rio

Vídeo da casa onde jovem foi estuprada

A Polícia Civil do Rio encontrou, nesta quinta (9), a casa onde a adolescente de 16 anos que foi vítima de um estupro coletivo esteve antes de o crime acontecer.

De acordo com as investigações, a vítima foi a essa casa para fazer sexo com Rai de Souza, 22. De lá, foi levada por traficantes para outra casa, onde foi estuprada e onde foram feitos vídeos que a mostram nua e tentando resistir.

A polícia fez uma perícia no local e percorreu o caminho entre as duas casas. Elas ficam a uma distância de 90 metros uma da outra. A polícia não sabe dizer a quem as duas casas pertencem, mas suspeita que elas sejam usadas pelos traficantes da região.

De acordo com as investigações, a adolescente foi a um baile funk no morro da Barão acompanhada de uma amiga; lá, já no fim da noite, encontrou com Souza e Lucas Perdomo, 20. Os casais foram para uma casa abandonada e fizeram sexo consentido —a vítima, com Souza, a amiga, com Perdomo. Foi esta a casa encontrada nesta quinta.

Por volta das 10h, Perdomo, Souza e a amiga da vítima deixaram a casa; segundo depoimentos dos três, a vítima resolveu ficar. Sozinha, foi encontrada por traficantes e levada por um deles, Moisés Camilo de Lucena, o Canário, para a casa conhecida como "abatedouro", onde foi estuprada.

A casa onde aconteceu o estupro foi localizada no último dia 27.

Ainda segundo a investigação, após passar mais de 24 horas no "abatedouro", como o grupo se referia à casa, a vítima foi encontrada na noite de domingo, 22 de maio, por Souza, que estava acompanhado de Raphael Belo, 41, e do traficante Jeferson, conhecido como Jefinho; os três e mais um quarto homem, não identificado, gravaram dois vídeos em que abusam da jovem. Ela foi ajudada por um conhecido, apelidado Fubá, e voltou para casa.

Souza e Belo estão presos temporariamente por suspeita de estupro. Outros cinco suspeitos estão foragidos. Perdomo chegou a ser preso, mas foi solto em seguida por falta de provas.

A polícia aguarda o resultado de perícia que está sendo realizada no celular onde o crime foi gravado.

Via-crúcis depois do estupro

-

CRONOLOGIA DO CASO

21.mai.2016
1h - A adolescente de 16 anos vai a um baile funk no morro da Barão, na zona oeste do Rio, acompanhada de uma amiga; lá, já no fim da noite, encontra Rai de Souza, 22, e Lucas Perdomo, 20
7h - Os dois casais vão para uma casa abandonada e fazem sexo consentido –a vítima com Rai, a amiga com Lucas
10h - Lucas sai para levar sua acompanhante em casa e Rai também deixa o local; segundo depoimentos dos três, a vítima resolveu ficar. Sozinha, foi encontrada por traficantes e levada por um deles, Moisés Camilo de Lucena, o Canário, para a casa conhecida como "abatedouro", onde foi estuprada

22.mai.2016 - Após passar mais de 24 horas no "abatedouro", a vítima é encontrada na noite de domingo por Rai, que estava acompanhado de Raphael Belo, 41, e do traficante Jeferson, conhecido como Jefinho; os três e mais um quarto homem, não identificado, gravam dois vídeos em que abusam da jovem; ela é ajudada por um conhecido, apelidado Fubá, e liberada para voltar para casa

24.mai.2016 - A vítima fica sabendo que um dos vídeos, que mostram seu estupro, circula na internet e volta ao morro para falar com o chefe do tráfico, Sergio Luiz da Silva Junior, conhecido como Da Russa, e tentar reaver seu celular, que havia sido roubado

25.mai.2016 - A família da menina é avisada por um vizinho sobre a gravação. No vídeo, de 38 segundos, um grupo de quatro homens debocha da vítima e ao menos um deles toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por "mais de 30". Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar como estupro, além da conjunção carnal, atos libidinoso, como o que é mostrado no vídeo

26.mai.2016 - A jovem presta o primeiro depoimento à polícia, é medicada em um hospital e faz exames no IML (Instituto Médico Legal), que não detectam material biológico ou marcas de lesão; policiais atribuem isso ao longo tempo decorrido entre o crime e o exame

27.mai.2016 - Ela presta mais dois depoimentos à polícia,assim como Rai de Souza, Lucas Perdomo e a jovem que os acompanhou na noite de sábado; a polícia localiza a casa em que o estupro aconteceu

28.mai.2016 - A então advogada da vítima, Eloísa Samy, pede à Promotoria do Rio o afastamento do delegado Alessandro Thiers. Segundo Samy, Thiers estava tratando o caso com "machismo e a misoginia"

29.mai.2016 - Pressionada, a Polícia Civil do Rio passa o comando das investigações à delegada Cristiana Bento, da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima); a pedido da família, a Defensoria Pública passa a defender a menina

30.mai.2016 - Polícia Civil realiza operação para prender seis suspeitos de participar do crime; Rai de Souza, 22, e Lucas Perdomo, 20, são detidos; o jogador seria liberado quatro dias depois, por falta de provas que sustentassem sua prisão

31.mai.2016 -A vítima e sua família entram no programa federal de proteção à testemunha, o que significa que a menina pode ganhar uma nova identidade e deixar o Rio; a polícia volta ao "abatedouro" e apreende dois colchões com manchas de sangue

1º.jun.2016 - Um terceiro suspeito se apresenta à polícia. Raphael Duarte Belo, 41, aparece no vídeo fazendo uma selfie ao lado do corpo da jovem

2.jun.2016 - Polícia Civil do Rio pede a prisão de mais dois homens: Moisés de Lucena, o Canário, e Jeferson, o Jefinho; ambos teriam estado com a vítima durante a gravação dos vídeos em que ela é estuprada. Com isso, passam a ser oito os suspeitos de envolvimento no crime

3.jun.2016 - O jogador de futebol Lucas Perdomo, 20, é liberado do presídio Bangu 10, no Rio, para onde havia sido encaminhado no dia anterior, após passar quatro dias em detenção na Cidade da Polícia. Segundo a delegada responsável pelo caso, não havia provas suficientes para que ele continuasse preso

5.jun.2016 - Depois de encontrar o celular de Rai na casa de um amigo dele, em Madureira (zona norte do Rio), a polícia examina o aparelho e descobre um segundo vídeo do estupro, além de fotos e gravações que incriminam o jovem de ligações com o tráfico

6.jun.2016 - A amiga da vítima, que esteve com ela e com os dois jovens no baile funk e na primeira casa, depõe novamente à polícia e reafirma sua versão de que houve sexo consensual entre a adolescente de 16 anos e Rai, e que a vítima ficou sozinha na casa depois disso

7.jun.2016 - Perícia conclui que há quatro vozes no primeiro vídeo sobre o estupro


Endereço da página:

Links no texto: