Folha de S. Paulo


Ação contra abuso sexual nos EUA mobiliza de Obama a Lady Gaga

Estupro nos Estados Unidos

Lady Gaga subiu ao palco da última cerimônia do Oscar, em fevereiro deste ano, acompanhada por 30 vítimas de abuso sexual. Os jovens tinham dizeres como "a culpa não é sua" e "sobrevivente" pintados nos braços.

Quem chamou a cantora ao palco foi o vice-presidente americano, Joe Biden. Aproveitando a audiência planetária da maior premiação de Hollywood, o vice-presidente pediu ao público para "intervir em situações em que o consentimento não foi dado". "Temos que mudar a cultura." Foi aplaudido de pé.

Gaga foi estuprada aos 19 anos. Compôs "Til It Happens to You" (até que aconteça com você) para um documentário sobre os estupros nas universidades americanas. Parte dos direitos autorais da música é revertida para associações que tratam do tema.

CONSCIENTIZAÇÃO

A dobradinha entre o vice-presidente dos EUA e a cantora pop faz parte de uma campanha para conscientização contra a "cultura do estupro" entre jovens e adolescentes no país, lançada em 2014 pela Casa Branca.

O presidente Barack Obama lançou uma força-tarefa incluindo o vice-presidente, ministros, sua principal assistente, Valerie Jarrett, e um grupo de pesquisadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, de Atlanta.

Chris Pizzello/Invision/AP
Lady Gaga e outras vítimas de abuso sexual durante apresentação na cerimônia do Oscar
Lady Gaga e outras vítimas de abuso sexual durante apresentação na cerimônia do Oscar

A pauta era criar uma série de recomendações e diretrizes para policiais, professores, pais, colegas e a comunidade acadêmica americana.

Como boa parte dos universitários americanos mora longe da família, em vastos dormitórios nem sempre bem vigiados, vários casos de estupros começaram a ser relatados nos últimos anos.

Um site –Not Alone– foi criado para promover as recomendações do grupo de especialistas e para concentrar um manual de boas práticas e de treinamento desenvolvidas por diferentes universidades americanas.

Em linguagem direta, o site diz o que um estudante deve fazer se foi vítima de abuso sexual, se testemunhou ou suspeita de um estupro, se quer se queixar da inação da faculdade onde estuda, além de explicar seus direitos. Em um mapa do país, o internauta pode achar as principais organizações de apoio às vítimas por Estado.

CAMPI

O relatório produzido pela Casa Branca fala que técnicos e professores de educação física, por exemplo, precisam tratar das "normas de hipermasculinidade entre atletas que apoiam ou facilitam a violência sexual".

Ele pede também que as universidades americanas e as escolas de ensino médio coletem o máximo de dados para descobrir "áreas inseguras" que devem ser mais monitoradas nos campi.

Sugere, ainda, atividades de aconselhamento e de debates sobre namoros e paqueras para que os "garotos aprendam a ser homens" no início das relações.

Em setembro do ano passado, foi lançada outra campanha, "It's on us" [é com a gente], para conscientizar a responsabilidade das testemunhas de assédio sexual.

Anualmente, os dias 17 e 18 de setembro, no primeiro mês do ano letivo para a maioria das universidades americanas, foram considerados "dias de ação" com debates e eventos para falar de assédio sexual.

Entre as recomendações do governo está a de se utilizar "vozes influentes e poderosas" nas escolas para falar abertamente da violência sexual e para disseminar mensagens que "desafiem as crenças e as atitudes comuns entre os mais jovens".

Obama, Biden e várias celebridades, como os atores Benicio del Toro, Daniel Craig e Steve Carell, gravaram um vídeo onde dizem frases como "se ela não consente, é crime", "em bares e festas, isso está acontecendo a nossas filhas e irmãs, a nossas amigas, faça algo, nunca a culpe, ajude".


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